Depoimento de Andrêza Almeida Fernandes Alves

Com o passar do tempo, ela se tornou uma amante das coisas simples. Nunca abriu mão da curiosidade – essa força de des’cobrimento dos enigmas do mundo. Muito menos, deixou escapar a coragem pra se lançar no des’conhecido, com os pés tateando o chão. Afinal, ela acreditava que na falta de algum sentido, outro, aguçar-se-ia pela força da natureza de si, em busca de um terreno seguro pra se manter de pé. A mulher acreditava que a experiência é matéria bruta de desfazimento de conceitos e ideias distorcidas, ou pré-concebidas. E que só através da experiência a mente humana é capaz de dissolver fantasias e temores absolutos. Sim. Há uma sabedoria estrutural na vivência, incomunicável nos livros. O tantra, conforme ela lia, era uma filosofia de vida, oriunda de uma sociedade de paz – não guerreira. Observada no povo Drávida, talhada em coordenadas matriarcais, sensoriais, desrepressoras, irrestritas e amorosas. Que indicava a permissão da liberdade por ser anárquica, e a expansão da percepção e consciência por ser uma prática do ser em sua essência. O hiato entre o que ela lia e a vivência desse saber estava ancorado numa espécie de zona de conforto limítrofe com o outro. Havia um desconcerto, quase incômodo, quando ela falava do desejo de experimentar tal arranjo. A junção do sentir e pensar, da razão e emoção, do corpo concreto com a alma - nossa casa sutil, não é prescritiva. Cabe na sugestão do que se pode fazer e ser. Nesse enquadramento, a cultura do julgamento costuma invadir a mente das pessoas definindo, de fora pra dentro, o que é certo ou errado, o que é feio ou bonito, bom ou mau. Recolhendo a vida ao não viver. Até que um dia, ao conversar sobre uma visão mais íntegra da vida, foi encorajada a agendar uma massagem tântrica – o início de um caminho que parecia sem volta. O autoconhecimento alcançado tem raízes no presente. Não anda para trás. Enfim, chegou o dia. Apesar da correria, ao chegar no local combinado, o tempo desacelerou. O tantra é relação. As palavras ganharam uma organização sistêmica, alcançando a ancestralidade da mulher. A pergunta primeira, sobre quem ela honrava com a própria forma de viver, foi a resposta para o motivo desenhado para estar ali. A mulher que amava demais, não se permitia ser amada. Ela não tinha medo da morte. Tinha medo do que havia descrito na memória sobre a dor dos seres amantes que permaneciam vivos. E quando o corpo foi chamado para o diálogo, ela pensou em desistir. Mas, a delicadeza a trouxe para o centro de si. E então, assim aconteceu. As palavras foram ditas e ouvidas. A respiração profunda e mediada fez harmonia com a musicalidade do lugar. Até que os olhos se fecharam. O toque sutil ofertado por todo o corpo da mulher a acendeu. Como quem acende a eletricidade de uma casa, e tudo passa a ser visto com clareza. Uma drenagem foi feita ao rigor de óleos perfumados. As mãos do terapeuta pareciam se multiplicar. Como se o corpo da mulher se tornasse muitos. O toque nos cabelos, o sopro em partes inusitadas modelavam sensações pouco visitadas. Partes do corpo acolhiam a vibração e energia vital. O orgasmo prolongado era alquimia de sentidos e conexões profundas demais pra estancar o choro. Até que a mulher sentiu a ternura da mão que a segurava em vigília. O corpo era outro. A alma estava nua. O coração estava bordado com flores.

Andrêza Almeida Fernandes Alves

Conheça o instrutor desta atividade:

Elderth Theza (Dhyan Farzan)

O tantra traz a oportunidade de reestabelecer uma nova conexão do ser através da fusão do campo sensorial do corpo com os aspectos mais sutis que envolvem a espiritualidade. Oferece assim uma integração de todos os âmbitos que estruturam o ser, dos níveis mais densos [...] Veja o perfil completo