A instrução de apontar o bastão
Apontando o Bastão para o Velho Homem
publicado por Osho
Quando o grande mestre Padmasambhava estava no Eremitério da Grande Rocha, em Samye, Sherab Gyalpo de Ngog, um homem sem instrução de 61 anos que tinha a mais elevada fé e forte devoção pelo mestre, serviu-o por um ano. Enquanto isso, Ngog não pediu qualquer ensinamento, nem o mestre lhe deu qualquer um. Quando, depois de um ano, o mestre decidiu partir, Ngog ofereceu-lhe um prato de mandala, sobre o qual colocou uma flor de uma onça de ouro. Então ele disse: Grande mestre, pense em mim com bondade. Em primeiro lugar, eu não sou instrução. Em segundo, minha inteligência é pequena. Em terceiro, estou velho, então meus elementos estão fatigados. Peço que você dê um ensinamento a um velho homem à beira da morte, que seja simples de entender, que possa cortar totalmente a dúvida, que seja fácil de realizar e de aplicar, que tenha uma visão efetiva, e que me ajudará em vidas futuras.
O mestre apontou seu bastão de andarilho para o coração do velho homem e deu esta instrução: Ouça aqui, velho homem! Olhe para a mente desperta de sua própria consciência! Ela não tem forma nem cor, nem centro nem borda. Primeiro, ela não tem origem, mas sim é vazia. Depois, ela não tem lugar de permanência, mas sim é vazia. No fim, ela não tem destino, mas sim é vazia. Esta vacuidade não é feita de qualquer coisa, e é clara e cognitiva. Quando vir isto e a reconhecer, você conhecerá seu rosto natural. Você entenderá a natureza das coisas. Você verá então a natureza da mente, determinará o estado básico da realidade e cortará completamente as dúvidas sobre tópicos de conhecimento.
Esta mente desperta da consciência não é feita de qualquer substância material, é auto-existente e inerente em você mesmo. Esta é a natureza da mente que é fácil de realizar porque não encontrada em qualquer lugar. Esta é a natureza da mente que não é constituída por um percebedor concreto e por algo percebido sobre o qual se fixar. Isso desafia as limitações da permanência e aniquilação. Nisto não há qualquer coisa a despertar; o estado desperto da iluminação é a sua própria consciência, que é naturalmente desperta. Nisto não há qualquer coisa que vá para os infernos; a consciência é naturalmente pura. Nisto não há qualquer prática a ser conduzida; sua natureza é naturalmente cognitiva. Esta grande visão do estado natural está presente em você mesmo: determine que isto não é encontrado em qualquer lugar.
Quando você entender a visão deste modo e quiser aplicá-la na sua experiência, onde quer que você esteja será o retiro na montanha de seu corpo. Qualquer aparência externa que você perceber será uma aparência naturalmente ocorrente e uma vacuidade naturalmente vazia; deixe-a ser, livre de construções mentais. As aparências naturalmente livres se tornarão seus ajudantes e você poderá praticar enquanto toma as aparências como caminho.
No interior, o que quer que se mova em sua mente, o que quer que você pense, não tem essência, mas sim é vazio. As ocorrências de pensamento serão naturalmente liberadas. Quando lembrar da essência de sua mente, você poderá tomar os pensamentos como caminho e a prática será fácil.
Para o conselho mais interior: não importa que tipo de emoção perturbadora você sinta, olhe para a percepção e ela cessará sem deixar rastros. A emoção perturbadora é assim naturalmente liberada. Isto é simples de praticar.
Quando você puder praticar deste modo, seu treino de meditação não será confinado a sessões. Conhecendo que tudo é um ajudante, sua experiência de meditação será imutável, a natureza inata será incessante e sua conduta será inabalável. Onde quer que permaneça, você nunca está separado da natureza inata. Uma vez que você tenha realizado isto, seu corpo material poderá ser velho, mas a mente desperta não envelhecerá. Ela não conhece qualquer diferença entre jovem e velho. A natureza inata está além da inclinação e da parcialidade. Quando você reconhecer que a consciência, o despertar inato, está presente em você mesmo, não haverá diferenças entre faculdades aguçadas ou fracas. Quando você entender que a natureza inata, livre da inclinação ou parcialidade, está presente em você mesmo, não haverá diferença ente um aprendizado grande ou pequeno. Mesmo que o seu corpo, o suporte da mente, caia, o dharmakaya da sabedoria da consciência será incessante. Quando você obtiver estabilidade neste estado imutável, não haverá diferença entre um tempo de vida longo ou curto.
Velho homem, pratique o verdadeiro significado! Leve a prática ao coração! Não permita a fala inútil e tagarelice sem objetivo! Não se envolva em metas comuns! Não se perturbe com a preocupação de ter prole! Não almeje excessivamente comida e bebida. Pretenda morrer como um homem comum! Sua vida está correndo, então seja diligente! Pratique esta instrução para um velho homem à beira da morte!
Por ter apontado o bastão para o coração de Sherab Gyalpo, isto é chamado "A Instrução do Apontar o Bastão para o Velho Homem". Sherab Gyalpo de Ngog foi liberado e atingiu realização.
Isto foi anotado pela princesa de Kharchen [Yeshe Tsogyal] para o bem das futuras gerações. É conhecido pelo nome "A Instrução do Apontar o Bastão".
(Advice from the lotus born: a collection of Padmasambhava's advice to the dakini Yeshe Tsogyal and other close disciples. Introdução de S.E. Tulku Urgyen Rinpoche, tradução de Erik Pema Kunzang e edição de Marcia Binder Schmidt. Kathmandu: Rangjung Yeshe, 1994. Pág. 101-103)