Uma reflexão sobre violência
publicado por Deva Harischandra
A gente vai vivendo e naturalizando coisas que não são naturais. Muitas vezes já não conseguimos perceber o quanto há de violência ao nosso redor, no nosso dia a dia, nas nossas ações...
Acabamos por acreditar que a violência está somente no assassinato, nas brigas, nos roubos, nas torturas, etc.
E não percebemos o quanto há de violência em nossas palavras sobre outras pessoas, seja nos julgamentos, comentários maldosos, reclamações, ou quando nos achamos no direito de chamar a atenção do outro com uma soberba cruel, como se não fôssemos também passíveis de erros.
A violência está na criação e educação das crianças. Nas comparações, nas críticas impiedosas, na falta de atenção, nas ofensas, na castração de sua inocência, na repressão de sua espontaneidade, no silêncio que se impõe a elas, na ridicularização, nas mentiras que se conta.
A violência está no nosso consumo desenfreado, no total descaso com a vida e com o cuidado com os recursos naturais, na toxidade que se joga na terra, na extração visando somente o lucro. Está na nossa arquitetura, em diversos aspectos da nossa cultura de maneira geral. Está na economia, na desigualdade gritante de distribuição de renda, na exploração e alienação do trabalhador.
Está na corrupção do dia a dia, no abuso de poder, na comunicação de forma estúpida, na falta de paciência, tolerância e empatia. Na não aceitação de si mesmo.
Está no machismo, que faz mal a todos. Na educação sexual deturpada e repressora. Na cobrança por padrões, que geram tantas violências, inclusive das pessoas com o seu próprio corpo, com o seu próprio ser, fazendo com que não se aceitem e violentem-se diariamente sentindo-se feias, não inteligentes, incapazes, insuficientes, sem amor próprio, sem energia, sem vontade de viver.
Está na quantidade de lixo que produzimos, na falta de consciência de que não existe “jogar fora”.
Está no trabalho que não gostamos, mas suportamos. Morremos um pouco a cada dia por mantê-lo, não enxergando as inúmeras possibilidades que possuímos, ou não acreditando que podemos escolher outras coisas.
Está no desrespeito aos seres de uma maneira geral. É tão introjetado como natural, que nem percebemos, por acreditarmos que somos superiores a eles.
Está no trânsito, quando julgo os outros porque considero que dirijo muito melhor, reclamo e xingo o tempo todo, mesmo que só pra eu ouvir...
Há inúmeras outras violências presentes no nosso cotidiano e que não são vistas como tal porque já nos anestesiamos a elas e acostumamos. Tenho certeza que você consegue perceber muitas outras não citadas aqui.
Que a gente consiga não só refletir sobre o assunto, mas criar alternativas pra viver de forma cada vez menos violenta uns com os outros e com a natureza. Afinal, somos um grande organismo vivo e se faço mal a qualquer ser, faço mal a mim mesma. Que essa consciência se torne tão natural quanto nos é hoje a violência.