Aceitação
publicado por Deva Harischandra
A gente tem tanto a crescer quando o assunto é aceitação, né?
Passamos a infância sendo ensinados que devemos competir o tempo todo, temos que ser “o melhor nisso, o melhor naquilo”. Somos submetidos a comparações, nos dizem que “fulano é mais inteligente, mais esperto, mais legal, mais divertido, mais rápido, faz tudo melhor”.
E a gente vai se moldando, acreditando que para ser amado precisa estar em um determinado padrão. Passa a vida correndo para atender as expectativas dos outros e acaba que vai se perdendo completamente de quem se é, nos tornando seres cheios de máscaras sociais, engessados, sem nenhuma espontaneidade. E como não conseguimos alcançar todos os padrões desejados, nem mesmo conseguimos nos aceitar. Sofrendo, nos cobrando, fazendo um mal enorme a nós mesmos, vamos entrando na engrenagem e nos tornando seres sem vida, sobrevivendo apenas. E esse modelo vai sendo reproduzido através da educação de nossos descendentes. Família, escola, sociedade, todos contribuindo para a supressão do que somos de verdade.
Como aceitar o outro, se a maioria de nós não é capaz de aceitar a si próprio? Julgamos os outros, armados com as nossas formas de ler o mundo, de acordo com todas as programações que recebemos.
Nosso amor é extremamente condicionado. Se o outro não corresponde às nossas expectativas, não o amamos, o julgamos, condenamos, reprimimos e excluímos.
É muito comum vermos nas discussões atuais sobre política por exemplo, ódio de um lado tentando combater o ódio do outro lado. O que faz a gente pensar que o outro vai ouvir um ponto de vista oposto ao dele, e analisar se faz sentido, se está sendo tratado com ódio, sofrendo duras críticas e sendo taxado de imbecil. Ele nem ouve. Você ouviria?
Como fomos cobrados por perfeição, acreditamos que o outro, para receber o nosso amor, deve se encaixar no nosso padrão de perfeito. E nada precisa ser assim. Claro que ninguém tem que conviver com alguém que nada tem a ver consigo. Mas deixe que o outro seja como consegue ser. Afaste-se se quiser. Mas não é legal impor a alguém que seja como esperamos, que seja de uma forma que conseguiríamos amá-lo. Que esteja dentro da nossa visão de certo, bom, adequado, que nada mais é que o nosso ponto de vista, e só isso.
O que tem que mudar é a nossa necessidade de mudar o outro. Mudar o outro é uma coisa que não dá pra fazer. Mudança é interna. Só se muda a si próprio. É possível que o outro sinta-se inspirado a mudar pelas suas atitudes, mas a escolha é dele. Conversar, mostrar o seu ponto de vista com amorosidade, trazer ideias novas, possibilidades de mudança e crescimento são válidas. Mas se não fizer o menor sentido para a pessoa, pra que impor ainda mais coisas do que já lhe foram impostas uma vida inteira? Seria violentá-la ainda mais.
Cabe a cada um escolher esse caminho, como quer ser e viver, o que lhe traz alegria e paz, tranqüilidade, sossego, o que o diverte, o que o nutre, o que o faz sentir-se vivo, mesmo que não sejam escolhas conscientes, mas programadas. Se a pessoa se sente bem assim, tudo bem. Podemos escolher com quem queremos nos relacionar na intimidade.
Querer mudar o outro a pulso é uma super violência. Cada um está em um momento de vida, em uma busca pessoal, e isso precisa ser respeitado. Vamos trazer consciência à nossa vida e deixar que cada um seja como consegue ser agora. Que a gente possa exercitar um olhar sem julgamento até pra nós mesmos e enxergar verdadeiramente o divino que há em todos os seres, com uma profunda aceitação do que somos e como somos nesse momento. Sem cobranças e atitudes maldosas, mas com sobriedade e amor.
Vale a pena a reflexão e a observação de si com relação aos julgamentos sobre si e sobre os outros. Perceber quando se está fazendo isso é um bom passo. E de passo em passo a gente vai crescendo e abrindo espaço para a aceitação. Bora lá?