Diálogos Íntimos: O Terapeuta e o Paciente:
publicado por Sasha - TANTRA TERRA
A mitologia consegue comportar e corresponde a diversos arquétipos que são muito típicos até os dias de hoje. E existe uma lenda que explica o surgimento de Quiron, o curador feriado, um dos arquétipos que ao meu ver, representa o movimento de todos os terapeutas que acolhem e tratam seus “pacientes”.
“Conta a lenda que Cronos se viu atraído fortemente pela bela Filira e, para tê-la, precisou se transformar em um cavalo para fugir da desconfiança de sua mulher, a deusa Réia. Da união desse amor proibido nasceu um menino, metade homem, metade cavalo.
Inconformada em ter gerado um Centauro, a mãe rejeitou o filho, pedindo aos deuses que a transformassem em uma árvore. Os deuses, sensibilizados com o pedido, escolheram transformá-la em uma Tília, uma árvore sagrada com poderes mágicos que protegiam os guerreiros.
Quando Cronos soube, preocupado com os lenhadores, resolveu protege-la fazendo com que ela exalasse para todo sempre um agradável e inebriante perfume durante a primavera.
Os Centauros costumavam ser violentos, por isso Cronos, que amava o filho, decidiu mudar esse destino dando-lhe suas virtudes de deus do tempo.
Quiron herdou do pai a sabedoria, os conhecimentos de magia, astronomia e o dom de prever o futuro. Além disso, era conhecedor das artes e da música. O menino foi entregue ao Deus Apolo e à deusa Artêmis para ser educado e, por sua sabedoria, virtudes e grande espiritualidade, foi eleito como rei dos centauros, recebendo a missão de educar os jovens para o respeito às leis divinas.
Certa vez, quando seu amigo Hércules matou o monstro Hidra de Lerna com cabeças envenenadas, acidentalmente o feriu na coxa com uma das flechas saturadas de sangue do monstro. Quiron, embora imortal, não conseguia curar a si mesmo, ficando condenado a viver em sofrimento.
Ferido e com um ponto sensível e que doía ao ser tocado, reconheceu que possuía uma VULNERABILIDADE. Os ferimentos de Quiron o transformaram no CURADOR FERIDO, aquele que, por meio de sua própria dor, é capaz de compreender a dor dos outros.”
Gilberto Godoy
Quiron foi rejeitado pela mãe, logo transformado naquilo que não era, retoma sua forma e é atingido por uma flexão ao qual jamais poderia se curar. Suas dores o transformaram num homem sábio, cuja consciência era aliada à sua parte animal, que passou a ser sua parte mais sensível. Todos os centauros eram violentos, mas Quiron recebeu de seu pai a sabedoria do tempo, transformando seus dons em conhecimento.
Quiron representa a parte ferida de cada um de nós e é o arquétipo que representa os terapeutas, cuja através de suas próprias dores, deficiências, debilidades, limitações e/ou problema se torna empático e benevolente a dor dos que o cercam, pois entende cada dor com compaixão e acolhe cada uma com amor.
O termo Curador Ferido vem pelo psicólogo Carl Jung, ao cunho de que o terapeuta é compelido a tratar seus pacientes porque ele mesmo está sangrando e ferido pela fragilidade de suas próprias dores.
Muitas pesquisas tem mostrado que a maior parte dos conselheiros, terapeutas e psicoterapeutas experimentaram uma ou mais experiências de feridas internas que os levaram à sua escolha de carreira, mesmo que de forma inconsciente.
No Tantra chamamos os nossos pacientes de interagentes. E sabe por quê? Porque ocorre no Tantra sempre uma interação, uma complexa rede de troca de energia e que vai além do diálogo ou mesmo da partilha de estórias e marcos de uma vida a ser revista. Ela vai nas entrelinhas da energia sutil, ela compartilha uma troca do início ao fim, da conversa aos toques com intervenção direta para atuação do seu campo de vibração.
Nessa troca do curador feriado com o interagente tem-se em vista ou pelo menos assim se espera, que como Quiron, o terapeuta tenha consciência de suas próprias feridas pessoais e que elas podem ser ativadas em certas situações. Especialmente as que são muito similares às suas próprias.
O terapeuta consciente ou não das próprias dores transmite esta consciência para seu interagente, causando um relacionamento inconsciente entre terapeuta e interagente durante as sessões e no próprio acompanhamento do processo, onde as feridas tratadas afetam as feridas do próprio terapeuta.
Assim como Quiron, todo conselheiro que permeia esse espaço de cura, sabe que, como disse Rumi, que é através de sua ferida que a luz entra, especialmente terapeutas Tântricos, que lidam com consciência através de sua parte mais primitiva e instintiva que é o corpo, podendo alcançar uma divina consciência através do aprimoramento dos filtros de construção do psiquismo, que são seus próprios sentidos.