Ciclos da Natureza e o Caminho da Consciência Feminina

publicado por Dhyan Ashna (Simone Carneiro)
Recentemente, atendi quatro mulheres em diferentes fases da vida, e esse encontro gerou uma reflexão profunda sobre como as mulheres, em suas diversas etapas, lidam com o desconforto emocional e a sensação de desconexão, tristeza e confusão. Cada uma delas, embora em momentos distintos de sua trajetória, compartilhou o sentimento de estar perdida ou desconectada de si mesma. Esse foi o ponto de partida para compreender que, muitas vezes, a chave para superar essas crises não está na busca pela perfeição ou na luta contra o que se sente, mas sim no olhar atento para os ciclos da vida, especialmente o ciclo menstrual e os ciclos da natureza.
Em um mundo contemporâneo que exige tantas de nós, as mulheres acabam se perdendo na busca incessante por resultados e padrões impostos pela sociedade. Somos ensinadas a ser perfeitas, a atender todas as expectativas sem falhar, sem fraquejar. Entretanto, ao longo dos anos, muitas de nós esquecemos que somos cíclicas por natureza, e esse fato não é uma falha, mas sim uma grande sabedoria da vida. Se fizermos uma pausa e olharmos para o nosso ciclo menstrual, podemos entender que ele é um reflexo profundo das fases que atravessamos em nossa existência. Cada fase do ciclo menstrual tem um significado, uma lição e uma conexão com a natureza ao nosso redor. Quando reconhecemos esse ciclo e nos conectamos com ele, podemos sair da ilusão de controle, aceitando o fluxo natural da vida. No tantra, por exemplo, é ensinado que o corpo da mulher é sagrado, e sua energia cíclica é uma expressão do cosmos. Ao honrarmos nossos ciclos, harmonizamos corpo, mente e espírito, resgatando a nossa força e nossa verdade.
Nosso ciclo menstrual é um espelho do ciclo da natureza. A lua, com suas fases de crescente, cheia, minguante e nova, reflete diretamente os momentos de florescimento e declínio da mulher. Assim como a lua, passamos por fases de abundância, de introspecção, de renovação e de reflexão. Quando reconhecemos esse ciclo e nos conectamos com ele, podemos sair da ilusão de controle, aceitando o fluxo natural da vida. No tantra, por exemplo, é ensinado que o corpo da mulher é sagrado, e sua energia cíclica é uma expressão do cosmos. Ao honrarmos nossos ciclos, harmonizamos corpo, mente e espírito, resgatando a nossa força e nossa verdade.
Do ponto de vista xamânico, a mulher atravessa diversos ritos de passagem em sua jornada. A puberdade, quando a menstruação se inicia, é o primeiro rito de passagem, um momento de despertar da força criativa e instintiva que reside em cada mulher. A maternidade, por sua vez, é outro grande rito, onde a mulher não só gera vida, mas também aprende a lidar com sua própria criação interna e externa. A menopausa, o último rito de passagem do ciclo menstrual, marca um período de grande transformação. Embora a sociedade, muitas vezes, enxerga a menopausa como o fim, o xamanismo vê essa fase como um momento de renascimento, de sabedoria profunda e liberdade.
Além disso, outro rito de passagem igualmente significativo ocorre quando a mulher inicia sua vida sexual, conectando-se com sua energia mais sagrada. Este momento, muitas vezes visto apenas sob a ótica da fisicalidade, carrega em si uma profunda transformação espiritual. O sexo, no contexto da espiritualidade feminina, não é apenas uma troca de energia entre corpos, mas um portal de conexão com o divino. É no prazer sexual e no orgasmo que a mulher se conecta com a energia maior, com o universo, acessando uma força transformadora e iluminadora. O orgasmo, mais do que uma experiência física, torna-se uma vivência transcendental, onde a mulher se alinha com sua própria divindade, com a sacralidade da vida, experimentando um estado elevado de consciência e espiritualidade. É um rito de passagem que desperta a mulher para a integração de sua energia criativa e espiritual, um processo de se reconhecer não apenas como uma mulher física, mas também como uma mulher cósmica, conectada com as forças que regem o universo.
Em cada uma dessas fases, o corpo e a alma da mulher estão em constante transformação, e a conexão com os ritmos naturais é fundamental. No entanto, muitas mulheres se perdem, não compreendendo as alterações emocionais e físicas que ocorrem durante esses ciclos. A puberdade pode ser confusa e tumultuada, a maternidade traz tanto a alegria quanto o desafio da responsabilidade, e a menopausa pode causar angústia e desconforto se não for compreendida como um rito de passagem.
No xamanismo, as mulheres são vistas como portadoras de uma sabedoria ancestral, conectadas com a Terra e os ciclos naturais. As tradições xamânicas acreditam que cada mulher é uma tecedeira de sua própria vida, e que seu destino está intimamente ligado à natureza e ao cosmos. Segundo essa visão, o caminho da mulher é marcado por transições e transformações, e, em cada uma dessas fases, ela é desafiada a se entregar ao fluxo da vida.
No entanto, a travessia desses ritos de passagem nem sempre é fácil. Como muitas mulheres têm relatado, as fases de nossa vida podem ser dolorosas e difíceis de navegar. Sentir-se perdida, triste ou desconectada é uma experiência comum, especialmente quando estamos em desacordo com as mudanças internas que estamos vivendo. Mas, segundo o xamanismo feminino, é importante que a mulher aceite o sofrimento como parte do processo de crescimento. Quando tomamos consciência das fases de nossa vida e aceitamos que a dor faz parte da jornada, podemos encontrar uma paz profunda, mesmo nas sombras.
Por vezes, as mulheres buscam respostas rápidas para a angústia, mas a verdadeira resposta muitas vezes está no entendimento de si mesmas, de seus corpos e dos ciclos que atravessam. Em momentos de desconexão, tristeza ou confusão, é essencial olhar para o ciclo menstrual, como uma forma de se reconectar com a própria essência. A menstrualidade é um portal para a sabedoria interior, e cada fase nos oferece uma oportunidade de nos conhecer melhor, de refletir sobre nossas emoções e de integrar nosso ser físico, emocional e espiritual.
O grande convite, portanto, é sair da prisão da culpa e da busca incessante pela perfeição. Ao invés disso, olhe para o seu ciclo com carinho, acolhendo as diferentes fases da vida, desde a puberdade até a menopausa, e reconheça que todas elas são parte de uma dança sagrada e fluida. Quando aceitamos a natureza cíclica da vida, conseguimos abandonar a luta para controlar tudo e, ao invés disso, aprendemos a fluir com os processos naturais da existência.