A natureza das trevas e da luz
Tantra - A Suprema Compreensão
publicado por Osho
As trevas dos tempos
Não podem amortalhar o sol fulgente;
Os longos kalpas do samsara
Jamais podem esconder a luz brilhante da Mente.
Embora palavras sejam ditas para explicar o vácuo, O Vácuo, tal como é, jamais pode ser explicado.
Embora digamos que a Mente é uma luz brilhante,
Ela está para além de todas as palavras e símbolos.
Embora a Mente esteja vazia em sua essência,
Contém e abarca todas as coisas.
Meditemos um pouco, primeiro, sobre a natureza das trevas. Eis uma das coisas mais misteriosas da existência – e tua vida está ligada a essa questão, não podes deixar de pensar nela. Precisamos entender a natureza das trevas, porque da mesma natureza é o sono, da mesma natureza é a morte e da mesma natureza é toda a ignorância.
A primeira coisa que te será revelada, se meditares sobre as trevas, é que as trevas não existem, não têm qualquer existência. É mais misteriosa a treva do que a luz, e não tem absolutamente existência – pelo contrário, não passa de ausência de luz. Não há trevas em lugar algum, tu não as pode encontrar, elas não têm existência em si mesmas; acontece, simplesmente, que a luz não está presente.
Se há luz, não há trevas; se não há luz, as trevas aparecem. A treva é a ausência de luz, não a presença de alguma coisa. Por isso é que a luz vai e vem, mas a treva permanece. Não é, mas permanece. Podes criar a luz, podes destruir a luz, mas não podes criar a treva e não podes destruir a treva. Ela está sempre ali, sem absolutamente estar ali.
A segunda coisa que compreenderás, se contemplares a treva, é que, por causa da sua não-existência, nada podes fazer com ela. E, se tentas fazer algo, tu serás derrotado. As trevas não podem ser derrotadas, pois como podes derrotar algo que não é? E, se fores derrotado, pensarás: “isso é muito poderoso, pois derrotou-me.” Mas será absurdo! As trevas não têm poder; como pode uma coisa que não é ter poder? Tu não és derrotado pelas trevas e seu poder, tu és derrotado por tua insensatez. Em primeiro lugar, começas-te a lutar – e isso foi insensato. Como podes lutar com alguma coisa que não é? Lembra-te: Tens estado lutando com muitas coisas que não são, como as trevas.
A moralidade como um todo luta contra as trevas, por isso é estúpida. O todo da moralidade, incondicionalmente, é uma luta com as trevas, uma luta com algo que não é.
O ódio não é real, é apenas a ausência do amor.
A cólera não é real, é apenas a ausência da compaixão.
A ignorância não é real, é apenas a ausência do estado de Buda, da iluminação.
O sexo não é real, é apenas a ausência de brahmacharya.
E toda a moralidade continua lutando contra o que não é. Um moralista jamais poderá obter sucesso; é impossível que o tenha. Terá que ser derrotado, finalmente, pois todo o seu esforço é insensato.
E essa é a diferença entre religião e moralidade: a moralidade tenta lutar contra as trevas e a religião tenta acordar a luz que está escondida no interior. Não se preocupe com as trevas, mas, e simplesmente, tenta encontrar a luz íntima. desde que a luz ali esteja, as trevas desaparecerão. Desde que a luz ali esteja, não precisarás fazer nada em relação às trevas - elas, simplesmente, não existirão.
Esta é a segunda coisa: nada pode ser feito contra as trevas, diretamente. Se desejas fazer algo com as trevas, terás de fazer algo com a luz, não com as trevas. Apaga a luz e as trevas ali estarão; acende a luz, e as trevas já ali não estarão - mas não podes ligar e desligar as trevas, não podes trazê-las de algures, não podes expulsá-las. se quiseres fazer alguma coisa com as trevas, deves fazê-lo por intermédio da luz, deves procurar o caminho indireto.
Nunca lutes com as coisas que não existem. A mente é tentada a lutar, e a atenção é perigosa: desperdiçarás tuas energias, tua vida e te desgastarás. Não te deixes tentar pela mente; vê, simplesmente, se algo tem existência real, ou se é apenas uma ausência. Se é uma ausência, não a combatas, mas procura a coisa da qual ela é a ausência - e estarás, então, na pista certa.
A terceira coisa sobre as trevas é que elas estão profundamente envolvidas em tua existência, de milhões de maneiras.
Sempre que estás encolerizado, tua luz interior desaparece. Na verdade, estás encolerizado porque a luz desapareceu, as trevas entraram. Só podes estar encolerizado quando estais inconsciente; não podes, conscientemente, encolerizar-te. Tenta isto: ou perdes a consciência e a cólera se instala, ou permaneces consciente e a cólera não aparece - não podes estar encolerizado conscientemente. O que significa isso? Significa que a natureza da consciência é exatamente igual à da luz e que a natureza da cólera é exatamente igual à das trevas - não podes ter ambas. Se tens a luz, não podes ter as trevas; se estás consciente, não podes estar colérico.
As pessoas procuram-me constantemente e perguntam como fazer para não se encolerizarem. estão fazendo a pergunta errada, dificilmente se consegue a resposta certa. Faze primeiro a pergunta certa. Não perguntes como afastar as trevas, não pergunte como afastar as preocupações, a angústia, a ansiedade. Analisa tua mente e vê, antes de mais nada, por que elas existem ali. Elas existem ali porque não és consciente o bastante; portanto, faze a pergunta certa: como ser cada vez mais consciente, ter cada vez mais maior percepção? Se perguntares como fazer para não te encolerizares, serás vítima de algum moralista. E, se perguntares como fazer para estar mais consciente, de forma que a cólera não possa existir, então estarás no caminho certo, então tu te tornarás um investigador religioso.
A moralidade é uma moeda falsa; engana as pessoas, não é, absolutamente, religião. A religião não tem nada a ver com a moralidade, porque a religião nada tem a ver com as trevas. Ela é um esforço positivo para o despertar. Ela não se preocupa com o teu caráter. Podes enfeitar, mas não mudar. Podes colori-lo de muitas e belas maneiras, podes pintá-lo, mas não podes mudá-lo.
Pode ocorrer somente uma transformação, uma revolução; e a revolução não virá por estar relacionada com o teu caráter, com os teus atos, com aquilo que fazes, mas por estar relacionada com o teu ser. Ser é um fenômeno positivo: desde que o ser está em alerta, desperto, consciente, as trevas desaparecem, subitamente - pois o ser é da natureza da luz.
A quarta coisa - e então podemos entrar no sutra - diz que o sono é tal qual as trevas. Não é por acaso que tens dificuldades em adormecer quando existe luz; é que é simplesmente natural. As trevas têm afinidade com o sono, por isso é tão fácil dormir à noite. As trevas envolventes criam o ambiente no qual tu podes adormecer muito facilmente.
Que acontece durante o sono? Perdes gradualmente a consciência. Até que, durante um certo intervalo, tu sonhas; o sonhar é um estado de meia-consciência, exatamente o estado central, tendendo para a inconsciência total. Do estado desperto estás seguindo para a inconsciência total. No caminho existe o sonho, e os sonhos significam, apenas, que estás meio desperto, meio adormecido. Por isso é que, se sonhas continuamente, durante toda a noite, sentes-te cansado pela manhã. E, se não puderes sonhar, então também te sentirás cansado, porque os sonhos existem por uma certa razão.
Durante as horas em que estás desperto, acumulas muitas coisas, pensamentos, sentimentos, assuntos incompletos, suspensos à mente. Vês uma bela mulher no caminho e, subitamente surge o desejo em ti. Mas és um homem de caráter, de maneiras, civilizado, de modo que, repeles o desejo, não queres vê-lo, continuas com o teu trabalho - e um desejo incompleto permanece suspenso em tua mente. Ele precisa completar-se, de outra maneira não poderás adormecer profundamente, porque ele virá de volta, uma e mais vezes. E, dirá: - "Ouve! Aquela mulher é realmente bela, seu corpo tem encanto. E tu és um tolo, o que estás fazendo aqui? Procura-a. Tu perdeste uma oportunidade!"
O desejo, suspenso, não permitirá que adormeças. Então a mente cria um sonho: estás de novo no caminho, a bela mulher passa, mas dessa vez estás só e não há civilização alguma ao teu redor. Não há necessidade de maneiras, nenhuma etiqueta é exigida. És como um animal, natural; não há em ti moralidade. Aquele é o teu mundo particular, não há policiamento que ali possa entrar, não há juiz que ali possa julgar. Estás, simplesmente, a sós e terás um sonho sexual. O sonho completa o desejo suspenso e, então, adormeces. mas, se sonhares continuamente, também te sentirás cansado.
Nos Estados Unidos existem muitos laboratórios de sonhos; nesses laboratórios descobriu-se este fenômeno: se uma pessoa não puder sonhar, dentro de seis semanas ficará louca. É possível acordar alguém, repentinamente, logo que começa a sonhar, porque há sinais visíveis quando se começa a sonhar: as pálpebras, particularmente, começam a mover-se rapidamente, o que significa que a pessoa está tendo um sonho; quando não sonha, as pálpebras permanecem em repouso. Isso acontece porque quando sonha, os olhos funcionam. Acorde-se a pessoa; repita isso durante toda a noite, sempre que ela comece a sonhar - dentro de três semanas ela enlouquecerá.
O sono não parece ser tão necessário. Se acordares uma pessoa, quando não estiver sonhando, ela se sentirá cansada, mas não enlouquecerá. Que significa isso? Significa que os sonhos são uma necessidade para nós. Somos tão iludidos, toda a nossa existência é feita de tanta ilusão - o que os hindus chamam maya - que os sonhos se fazem necessários. sem sonhos não podes existir: os sonhos são o teu alimento, os sonhos são a tua força; sem sonhos, enlouquecerias. Os sonhos te desligam da loucura e, assim que esse desligamento acontece, tu adormeces.
Do estado desperto passas ao sonho, e do sonho passas ao sono. Durante toda a noite, uma pessoa passa por oito ciclos de sonhos; entre dois desses ciclos há algum momento de sono profundo. No sono profundo toda a consciência desaparece, tudo é inteiramente escuro. Mas ainda estás na fronteira, pois qualquer emergência te despertará; se a casa se incendeia, voltas à tua consciência desperta; ou, se és mãe e teu filho começa a chorar, tu corres, rapidamente para o despertar - de forma que permaneces na fronteira. Penetras nas trevas profundas, mas permaneces na fronteira.
Na morte, cais exatamente no centro. A morte e o sono são similares, a qualidade é a mesma. No sono, todos os dias, tu entras nas trevas, nas trevas completas; torna-te completamente inconsciente, cais num estado exatamente oposto ao estado de Buda. Um Buda está totalmente desperto, ao passo que, a cada noite, tu tombas totalmente adormecido, em trevas absolutas.
No Gita, Krishna diz a Arjuna que, mesmo quando todos estão bem adormecidos, o iogue permanece acordado. Isso não significa que ele nunca durma: ele dorme, mas só seu corpo é que o faz, seu corpo descansa. Ele não tem sonhos porque não tem desejos; se não tem desejos, ele não pôde tê-los incompletos. E ele não dorme, como tu - mesmo no mais profundo descanso, sua consciência é clara, sua consciência arde como uma chama.
Todas as noites, quando adormeces, entras em profunda inconsciência, em coma. Na morte, entras em coma ainda mais profundo. Todas essas situações são como as trevas e, por isso, tens medo da escuridão. Porque ela se parece à morte. E há pessoas que também têm medo de dormir, porque o sono também se parece com a morte.
Conheci muitas pessoas que queriam dormir, mas não conseguiam. Quando tentei compreender-lhes as mentes, percebi que elas eram, basicamente, temerosas. Diziam desejarem dormir porque estavam fatigadas, mas bem no fundo receavam o sono - e isso é que criava toda a perturbação. Noventa por cento das insônias referem-se ao temor do sono. Tens medo. Tens medo da escuridão, tens medo também de dormir; e esse medo se relaciona ao medo da morte.
Se compreenderes que tudo isso é escuridão e que tua natureza interior é a da luz, as coisas começarão a se modificar. Então não haverá sono para ti, apenas repouso; então não haverá morte para ti, apenas uma mudança de roupagem, de corpos, uma mudança de vestuário. Mas isso só poderá acontecer, se compreenderes a flama interior, tua natureza, teu mais íntimo ser.
O Sutra:
As trevas dos tempos
não podem amortalhar o sol fulgente;
os longos kalpas do samsara
jamais podem esconder a luz brilhante da Mente.
Os que despertaram chegaram a compreender que... as trevas dos tempos não podem amortalhar o sol fulgente.
Tu podes ter vagado entre as trevas durante milhões de vidas, mas não podes destruir tua luz interior, porque as trevas não podem ser agressivas. Elas não existem: como pode aquilo que não existe, ser agressivo? As trevas não podem destruir a luz - como podem as trevas destruir a luz? Mesmo uma chama pequena as trevas não podem destruir; não podem saltar sobre ela, não podem entrar em conflito com ela - como podem as trevas destruir uma chama? Como podem as trevas amortalhar uma chama? Isso é impossível, jamais aconteceu, porque simplesmente não pode acontecer.
Mas as pessoas continuam pensando em termos de conflito: pensam que as trevas estão contra a luz. Isso é absurdo! As trevas não podem estar contra a luz Como pode uma ausência estar contra aquilo de que ela é a ausência? As trevas não podem estar contra a luz: não há luta, há, simplesmente, ausência: pura ausência, pura impotência - portanto, como pode ela atacar?
Tu continuas dizendo: "Que posso eu fazer? Tive uma crise de cólera." - isso é impossível: "Tive uma crise de ganância" - isso é impossível. A ganância não pode atacar, a cólera não pode atacar: elas são da natureza das trevas, e teu ser é luz: assim, a simples possibilidade não existe. A cólera surge apenas porque a tua chama interior foi completamente esquecida, tu te tornaste inteiramente olvidado dela, não sabes que ela existe. Esse esquecimento é que pode amortalhá-la, mas não as trevas.
Assim, a escuridão verdadeira é o teu esquecimento, que, por sua vez, chama a cólera, a ganância, a sensualidade, o ódio, o ciúme. Mas não são eles que te atacam. Lembra-te: tu foste o primeiro a enviar o convite, vieram como hóspedes, como convidados. Podes ter esquecido que lhes fizeste o convite; podes esquecer, porque esqueceste a ti mesmo, podes esquecer tudo.
Esquecimento: eis a real escuridão.
E, no esquecimento, tudo acontece: tu és como um ébrio, te esqueceste inteiramente de ti mesmo, de quem és, para onde vais, de por que vais. Perdeste todas as direções; o teu próprio censo de direção já não mais existe: és um ébrio. Por isso é que todos os ensinos religiosos básicos insistem na auto-recordação. O esquecimento é a doença; assim, a auto-recordação deve ser o antídoto.
Tenta lembrar de ti mesmo. Dirás: - "Conheço-me e me lembro de mim! De que estás falando?" - Então, tenta: mantém um relógio de pulso diante de ti, olha para o ponteiro que mostra os segundos e recorda apenas uma coisa: "Estou olhando para este ponteiro que marca os segundos." Não conseguirás recordar durante três minutos seguidos; esquecerás por muitas vezes uma coisa tão simples: "Estou olhando e me recordarei do que estou olhando."
Esquecerás; muitas coisas virão à tua mente: tens um encontro e, o fato de olhar para o relógio far-te-á lembrar-te: "às cinco horas tenho de encontrar-me com um amigo." Surge um pensamento e te esqueces de que estavas olhando para o ponteiro. Só por estares olhando para o relógio, podes começar a pensar na Suíça, porque ele foi feito lá. Basta olhar para o relógio, e podes começar a pensar: - "Como sou tolo. Que estou fazendo aqui, perdendo tempo?" - Mas não te conseguirás recordar, mesmo durante três segundos consecutivos, de que estás olhando para o ponteiro que se move marcando os segundos.
Se fores capaz de conseguir um minuto de auto-recordação, eu prometo fazer de ti um Buda. mesmo por um minuto, sessenta segundos, será o bastante. Pensarás: - "Tão barato, tão fácil?" - e não é. Não sabes o quão profundo é o teu esquecimento. Não poderás fazer isso durante um minuto, continuamente, sem que um só pensamento venha a perturbar tua auto-recordação.
Essa é a escuridão real.
Se recordares, tornar-te-ás luz.
Se esqueceres, tornar-te-ás treva.
E, às trevas, naturalmente, chega toda espécie de ladrões; toda sorte de gatunos te assaltam, toda sorte de contratempos acontecem.
A auto-recordação é a chave. tenta recordar, mais e mais, porque, quando tentas recordar mais e mais, tornas-te centralizado, estás em ti mesmo, tua mente viajeira volta ao seu próprio eu. De outra maneira irás por aí: a mente está continuamente criando novos desejos, e seguirás e perseguirás a mente em muitas direções, simultaneamente. Por isso é que te encontras dividido; não és um, e tua chama, a chama interior, continua vacilando - uma folha sob vento forte.
Quando a flama interior se torna inabalável, passas, subitamente, por uma mutação, uma transformação; um novo ser nasce, um ser da natureza da luz. No momento, és da natureza das trevas, és, simplesmente, a ausência de algo possível. Na verdade, não és ainda; ainda não nasceste. Tiveste muitos nascimentos e mortes, mas ainda não nasceste. Teu nascimento real ainda deve acontecer, e esse nascimento se dará quando transformares tua natureza interior, passando do esquecimento para a auto-recordação.
Não te imponho nenhuma disciplina, não te digo: "Faze isso e não faças aquilo". Minha disciplina consiste no fazer o que se deseje - mas fazê-lo com auto-recordação: faze com que te lembres do que estás fazendo. Ao caminhar, lembra-te de que estás caminhando. Não será preciso verbalizar, porque a verbalização não ajudará. pois poderá torna-se uma distração. Não precisas andar, dizendo intimamente "estou andando" será o esquecimento, e, então, não conseguiras recordar. Lembra-te, simplesmente: não há necessidade de verbalizar tuas ações.
Eu verbalizo porque estou falando contigo; mas quando estiveres andando, recorda, simplesmente, o fenômeno, o andar; cada passo deve ser dado com plena consciência. Comer, comendo. Não estabeleço o que comer e o que não comer. Come o que quiseres, mas com auto-recordação do que estás comendo. E depressa verás que se tornou impossível fazer muitas coisas.
Com auto-recordação, não podes comer carne, é impossível. É impossível ser violento, se recordares. É impossível prejudicar seja quem for porque, quando recordas a ti próprio, vês, subitamente, que a mesma luz, a mesma chama está ardendo em toda parte, dentro de cada corpo, de cada unidade. Quanto mais conheceres tua natureza interior, mais penetrarás a do outro. Como poderás matar para comer? Comer carne tornar-se-á simplesmente impossível. Não que faças disso uma prática; seria falso, se fosse uma prática. Será falso te empenhares em ser ladrão; tu continuarás a ser ladrão; encontrarás formas sutis de sê-lo. Se praticares a não-violência, atrás dela estará escondida a tua violência.
Não, a religião não pode ser praticada, A moralidade pode ser praticada e, por isso, cria hipócritas, cria rostos falsos. A religião cria seres autênticos; não pode ser praticada, Como podes praticar o ser? Torna-se simplesmente mais consciente, e as cosias começarão a se modificar. Torna-te mais da natureza da luz, simplesmente, e as trevas desaparecerão.
As trevas dos tempos não podem amortalhar o sol fulgente...
Durante milhões de vidas, por muitas eras, permaneceste nas trevas; mas não te sintas deprimido nem desesperançado, porque, mesmo tendo estado nas trevas durante milhões de vidas, neste mesmo momento podes alcançar a luz.
Observa: supõe que uma casa ficou fechada, durante cem anos, no escuro; tu entras nelas e acendes uma luz. Dirá a escuridão: "Eu tenho cem anos e esta luz mal acaba de nascer"? Dirá a escuridão: "Não vou desaparecer. Terás de acender uma luz durante, pelo menos cem anos e só então desaparecerei"? Não; mesmo uma luz acabada de nascer é suficiente para dispersar uma escuridão muito antiga. Será que, em cem anos, a escuridão se fez inveterada? Mas não, a escuridão não se pode ter feito inveterada, porque não existe. Ela apenas espera pela luz - no momento em que a luz penetra, a escuridão desaparece; ela não pode resistir, porque não tem existência positiva.
Há quem venha a mim, dizendo: - "Tu dizes que a Iluminação súbita é possível. Então, o que acontece com as nossas vidas passadas e nossos passados karmas?" - Nada. Eles são da natureza da escuridão. Tu podes ter sido um assassino, tu podes ter sido um ladrão, assaltante, tu podes ter sido um Hitler, um Gengis Khan, ou até pior, que não faz diferença. Desde que te recordas de ti mesmo, a luz se fará presente e todo o passado imediatamente desaparecerá; não permanecerá mais nem por um só momento. Se mataste, isso não significa que sejas um assassino. Mataste porque não estavas consciente de ti mesmo, não estavas consciente do que fazias.
Conta-se que Jesus disse, na cruz: "Perdoai-lhes, Pai, porque não sabem o que fazem. Ele estava dizendo: " Eles não são da natureza da luz, não se recordam de si próprios. Estão agindo em completo esquecimento, movem-se e tropeçam na escuridão. Perdoai-lhes; eles não são responsáveis pelo que quer que façam." Como pode uma pessoa que não se recorda de si própria se responsável?
Ser responsável significa recordar.
Seja o que for que tenhas feito, digo-te, não te preocupes. Aconteceu porque não estavas consciente. Acende tua chama interior, procura-a, busca-a, ela existe - e, de um momento para outro, todo o passado desaparecerá, como se tudo tivesse acontecido num sonho. Na verdade, teu passado foi um sonho, porque não estavas consciente. Todos os karmas aconteceram em sonho; são da mesma matéria com que são feitos os sonhos.
Não precisas esperar que teus carma sejam esgotados - caso contrário, terás de esperar por toda a eternidade. Mesmo estão, não poderás sair da roda porque, simplesmente, não podes esperar pela eternidade: estarás fazendo muitas coisas, nesse entretempo, e, então, o circulo jamais se completará. Tu te moverás continuamente e, continuamente farás coisas e novas coisas te ligarão a outras coisas futuras - e, então, onde estará o fim? Não, não há necessidade. Simplesmente, faze-te consciente e, de súbito, todos os karmas tombam. Num só momento de intensa consciência, todo o passado desaparece, torna-se refugo.
Essa é uma das coisas mais fundamentais que o Oriente descobriu. O cristianismo não pode entendê-la. Continua a pensar em termos de julgamento, Dia do Juízo Final, quando todos deverão ser julgados pelos seus atos. Se assim fosse, Cristo Ter-se-ia enganado quando disse: "Perdoai-lhes porque não sabem o que fazem." Os judeus não podem entender isso; os muçulmanos também não podem entender isso.
Os hindus pertencem, realmente, à mais audaciosa das raças; penetraram no âmago do problema: o problema não é agir, o problema é ser. Desde que compreenda teu ser interior e a luz, já não serás deste mundo. O que quer que tenha acontecido no passado foi um sonho. Por isso dizem os hindus que todo este mundo é um sonho; só tu não és um sonho, só o sonhador não é u sonho. À exceção de ti, tudo é um sonho.
Observa a beleza desta verdade: só o sonhador não é um sonho; o sonhador não pode ser um sonho porque, de outra maneira, o sonho não poderia existir. Pelo menos alguém, o sonhador, tem de ser um fenômeno real.
Durante o dia tu estás acordado e fazes várias coisas: vais à loja, vais ao mercado, trabalhas numa fazenda, ou numa fábrica, fazes milhões de cosias. À noite, quando adormeces, te esqueces de tudo, tudo desaparece e um novo mundo tem início - o mundo do sonho. E, agora, os cientistas dizem que deves dar ao sonho o mesmo tempo que dás ao despertar. O mesmo número de horas que passas acordado, deves passar dormindo. Em sessenta anos, se vinte anos forem devotados ao trabalho, que realizas acordado, vinte anos deverão ser devotados ao sonho. O mesmo tempo, exatamente o mesmo tempo, deve ser devotado ao sonho. Assim, o sonho não menos real, tem o mesmo valor.
À noite tu sonhas e te esqueces de teu mundo desperto. Em profundo sono, esqueces tanto o teu mundo desperto, como o teu mundo de sonho. Pela manhã, novamente no mundo desperto, que voltou a existir, te esqueces de teu sonho e de teu sono. Mas uma coisa permanece continuadamente: TU. Quem recorda os sonhos? Pela manhã, quem diz: "Sonhei na noite passada"? Pela manhã, quem diz: "Na noite passada, dormi bem, profundamente, sem sonhar"? Quem?
Para que isso ocorra, deve haver uma testemunha que permanece a teu lado, que sempre fica de lado, observando. O despertar vem, o sonho vem, o sono vem e alguém está a teu lado observando. Só isso é real, porque existe em todos os estados. Outros estados desaparecem, mas essa presença permanece em todos os estados; é a única coisa permanente em ti.
Alcança essa testemunha cada vez mais. Torna-se mais e mais alerta, torna-te mais e mais uma testemunha. Em lugar de ser um ator, no mundo, sê uma testemunha, um espectador. Tudo o mais é sonho; só o sonhador é a verdade. Ele precisa ser verdadeiro; se não o for, com acontecerão os sonhos? Ele é a base. As ilusões só acontecerão se ele ali estiver.
E, desde que te recordes, começarás, a rir. Que tio de vida existe sem a recordação? Tu és um ébrio, passando de um estado a outro, sem saber porquê, vagando sem direção. Mas:
As trevas dos tempos não podem
ocultar o sol fulgente;
os longos kalpas do samsara...
(milênios, longas eras, kalpas),
... jamais podem escolher a luz brilhante da Mente.
Ela está sempre ali, é o teu próprio ser.
Embora palavras sejam ditas para explicar o Vácuo,
o Vácuo, tal como é, jamais pode ser explicado.
Embora digamos "a mente é uma luz brilhante",
ela fica para além de todas as palavras e símbolos.
Uma coisa ajudará a entender. Há três abordagens possíveis da realidade: uma é a abordagem empírica, a abordagem da mente científica, feita com base na experimentação com o mundo objetivo e, a não ser que algo seja provado pela experiência, não é aceito. A outra abordagem é a da mente lógica. Essa não realiza experiências; pensa, simplesmente, argumenta, encontra prós e contras, e, só pelo esforço mental , raciocinando, conclui. E a terceira abordagem é a metafórica, a abordagem da poesia e da religião. Essas três abordagens existem: Três dimensões através das quais procura-se chegar à realidade.
A ciência não pode ir além do objeto, porque a própria abordagem cria a limitação. A ciência não pode ir além do exterior, porque as experiências são são possíveis com o que é externo. A filosofia e a lógica não podem ir além do subjetivo, porque são esforços da mente, trabalhos da mente. Não é possível dissolver a mente, não é possível a ninguém ir além da mente. A ciência é objetiva, a lógica e a filosofia são subjetivas. A religião e a poesia vão além: são pontes de ouro que ligam o objeto à substância. E, então, tudo se transforma num caos - criativo, naturalmente. Na verdade, não há criatividade se não houver caos. Tudo se torna indiscriminado e as divisões desaparecem.
Eu gostaria de dizer o que disse da seguinte forma: a ciência é abordagem do dia, em pleno meio-dia; tudo é claro, distinto, delimitado e podes ver bem o outro. A lógica é a abordagem da noite; é o tatear no escuro apenas com a mente, sem qualquer apoio experimental, apenas usando o pensamento. A poesia e a religião são abordagens crepusculares, estão exatamente no meio:
Já não é dia,
o brilho do meio-dia se foi,
as coisas não aparecem tão distintas, tão claras.
A noite ainda não veio,
as trevas ainda não envolveram tudo.
As trevas e o dia se encontram,
há um brando acinzentado,
nem branco nem preto -
fronteiras encontram-se e fundem-se,
tudo se torna indiscriminado,
tudo é outro tudo.
Essa é a abordagem metafórica.
É por isso que a poesia fala por metáforas; e a religião é a poesia definitiva, a religião fala por metáforas. Lembra-te, as metáforas não devem ser tomadas literalmente, senão perdes o propósito. Quando digo "luz interior", não penses em termos literais. Quando digo "luz interior", faço uso de uma metáfora. Algo é indicado, mas não é demarcado ou definido. Algo que tem a natureza da luz, mas não exatamente a luz - eis a metáfora.
E isso torna-se um problema, porque a religião fala por metáforas; não pode falar de outra maneira, não há outra maneira. Se estive num outro mundo onde vi flores que não existem nesta terra, e chego junto a ti para falar dessas flores, que poderei fazer? Terei de usar metáforas e símiles. Direi "como rosas" - mas não eram rosas. Se assim não fosse, por que diria "como rosas, se simplesmente poderia dizer "rosas?". Mas não se trata de rosas, aquelas flores têm uma qualidade diferente.
"Tal como" significa que estou tentando ligar meu conhecimento do outro mundo a teu conhecimento deste mundo - daí os símiles, as metáforas. Tu conheces rosas, mas não conheces as flores de um outro mundo. Eu as conheço e tento transmitir-te algo daquele mundo; por isso digo que as flores são tal como rosas. Não te zangues comigo, quando chegares àquele mundo e não encontrares rosas; não me arrastes a um tribunal, porque jamais tive a intenção de ser literal. Apenas a qualidade da rosa é indicada, apenas um gesto, um dedo apontando para a lua e esquece o dedo . Esse é o significado da metáfora: Não te agarres à metáfora.
Muitas pessoas mergulham fundo em águas escuras por causa disso: agarram-se à metáfora. Eu falo em luz interior e, depois de alguns dias, as pessoas começam a procurar-me, dizendo: "Vi a luz interior". Encontram as rosas daquele outro mundo, mas elas não existem neste mundo. Por causa da linguagem metafórica, muitas pessoas tornam-se, simplesmente, imaginativas.
P. D. Ouspensky criou uma palavra: imaginazione. Sempre que alguém chegava e começava a falar a respeito de experiências interiores, como: "O kundalini surgiu; vi uma luz em minha cabeça; os chakras estão se abrindo", ele imediatamente fazia-o calar-se, dizendo: "Imaginazione." Então as pessoas perguntavam: - "o que vem a ser esta imaginazione?" - E ele respondia: - "A doença da imaginação" - e, simplesmente, deixava morrer o assunto. Ou dizia, imediatamente: "Pára! Tu foste a vítima."
A religião fala por metáforas; não há outra forma, porque a religião fala de um outro mundo, o mundo do além. tenta encontrar símiles neste mundo, usa palavras impróprias, mas essas palavras impróprias são as únicas disponíveis, de forma que temos de usá-las.
Podes entender facilmente a poesia. A religião é mais difícil, porque, quando se trata de poesia, tu já sabes que é imaginação e não há problemas. Podes entender facilmente a ciência, porque sabes que não é imaginação, que é um fato empírico. Podes entender facilmente a poesia; sabes que é poesia, mera poesia, enfim, é imaginação. Excelente! Bela! Podes deleitar-te com ela - ela não é uma verdade.
E o que farás com a religião? A religião é a poesia definitiva. Não é imaginação. E, digo-te, é empírica; tão empírica quanto a ciência, mas não pode usar expressões científicas, porque são demasiadamente objetivas. Não pode usar expressões filosóficas, porque são demasiadamente subjetivas. Deve usar algo que não é nem uma coisa, nem outra; deve usar algo que ligue ambas - e use a poesia.
Toda religião é poesia definitiva, poesia essencial. Não encontrarás poeta maior que Buda. Naturalmente, ele jamais tentou escrever um só poema. Estou aqui, contigo, e sou um poeta. Não compus um só poema, nem mesmo um haikai, mas estou continuamente falando por metáforas, estou continuamente tentando preencher o espaço que é criado pela ciência e pela filosofia. Estou tentando dar-te a sensação do todo, do indiviso.
A ciência é metade, a filosofia é metade - que fazer? Como obter a idéia do todo? Se mergulhares na filosofia, chegarás ao que Shankara chegou. Ele disse: “O mundo é ilusório, não existe; apenas a consciência existe.” Mas essa afirmação é demasiadamente unilateral. Se te ligares a cientistas, chegarás ao que Marx chegou - Marx e Shankara são pólos opostos. Marx disse: “Não há consciência; só o mundo existe.” E eu sei que ambos estão certos e ambos estão errados. Ambos estão certos, porque estão dizendo meia verdade e ambos estão errados, porque estão negando a outra metade. E, se tenho que falar no todo, como fazê-lo? A poesia é a única forma; a metáfora é a única saída. Lembra-te disto:
Embora palavras sejam ditas para explicar o Vácuo, o Vácuo, tal como é, jamais pode ser explicado.
Por isso é que os sábios continuam insistindo: “Seja o que for que digamos, não podemos dizê-lo. É o inexprimível, e, ainda assim, tentamos explicá-lo.” Sempre dão ênfase a esse fato, porque existe a possibilidade de serem compreendidos literalmente.
O Vácuo é vácuo, no sentido de que nada do que és será ali deixado; mas o Vácuo não é vácuo em outro sentido, porque o Todo descerá até ele - o Vácuo será o mais perfeito e realizado fenômeno. Portanto, como dizê-lo? Se digo “Vácuo”, tua mente, de súbito, pensa que é o nada: então, por que estar preocupado? E, se digo que não é o vácuo; que é o ser mais perfeito, tua mente entra num “caminho-de-ambição”: como tornar-se o ser mais perfeito - e então o ego introduz-se nela.
Para afastar o ego, a palavra vácuo é enfatizada. Mas, para te tornar consciente do fato de que o Vácuo não é realmente um vácuo, diz-se, também, que ele está tomado pelo Todo.
Quando não és, toda a existência vem ter contigo.
Quando a gota desaparece, torna-se o oceano.
Embora digamos que “a Mente é uma luz brilhante”, ela está para além de todas as palavras e símbolos.
Não te deixes iludir pela metáfora; não te ponhas a imaginar uma luz interior. Fazer isso é imaginazione. Podes fechar os olhos e imaginar uma luz. És tão bom sonhador, pode sonhar com tantas coisas, por que não com uma luz?
A mente tem a faculdade de criar qualquer coisa que desejes; basta apenas um pouco de persistência. Podes criar belas mulheres em tua mente, por que não uma luz? Que há de errado com a luz? Podes criar mulheres tão lindas, na mente, que mulher alguma, na vida real, poderá ser satisfatoriamente comparada a elas, pois jamais lhes alcançará o padrão. Podes criar todo um mundo de experiências interiormente. Atrás de cada sentido há um centro imaginativo próprio.
Na hipnose, a imaginação começa trabalhando com toda a sua capacidade e a razão, adormecida, desaparece completamente. A hipnose nada é senão o sono da razão, o sono daquela que duvida; por isso, na hipnose, a imaginação funciona perfeitamente. Não há freio para ela, apenas aceleração - tu segues para a frente, para a frente, sem encontrar freio.
Sob hipnose tudo pode ser imaginado. Podes dar uma cebola a uma pessoa hipnotizada e dizer-lhe: “Aqui está uma linda e deliciosa maçã.” Ela comerá a cebola e dirá: “É realmente linda. Jamais comi uma maçã tão deliciosa.” Se lhe deres uma maçã dizendo tratar-se de uma cebola, os olhos dela começarão a encher-se d’água e o comentário será: “Muito, muito forte” - e estará comendo uma maçã. Por que isso acontece? Aquela que duvida, a razão, não está presente; há uma hipnose; aquela que duvida adormeceu. Agora, a imaginação funciona e não há controle. Esse é, também, o problema da religião.
A religião precisa de confiança. A confiança pode fazer com que a faculdade de duvidar da mente adormeça; é parecida à hipnose. Assim, quando as pessoas te dizem “Esse homem, esse Rajneesh hipnotizou-te”, têm razão, de certa forma: se confias em mim, estás como que hipnotizado. Bem acordado deixaste que tua razão se desvanecesse - e, agora, a imaginação funciona com capacidade total; agora estás numa situação perigosa.
Se deres oportunidade à imaginação, poderás imaginar toda sorte de coisas: kundalini está chegando, chakras se estão abrindo. Toda sorte de coisas tu poderás imaginar, e elas acontecerão contigo. E são belas - mas não são verdadeiras. Assim, quando confiares numa pessoa, mesmo confiando deves ter consciência da imaginação. Confia, mas não te tornes uma vítima da imaginação. O que quer que esteja sendo dito aqui é metafórico. E recorda-te, sempre, de que todas as experiências são imaginação. Todas as experiências, digo eu, incondicionalmente - só o experimentador é a verdade.
Assim, seja qual for a tua experiência, não lhe dês muita atenção e nem comeces a gabar-te dela. Lembra-te, apenas, de que tudo quando é experimentado é ilusório; só aquele que realiza a experiência é verdadeiro. Atenta para a testemunha; focaliza a testemunha, e não as experiências. Por mais belas que sejam, todas as experiências são semelhantes ao sonho e é preciso que se vá além delas.
Assim, se a religião é poética, temos de falar metaforicamente. O discípulo que confia profundamente pode, facilmente, ser vítima da imaginação - é preciso estar bem alerta. Confia, ouve as metáforas, mas recorda-te de que são apenas metáforas. Confia; muitas coisas começarão a acontecer, mas lembra-te: tudo é imaginação, menos tu. E tens de chegar a um ponto onde não há experiências, onde só existe o experimentador, silenciosamente; nenhuma experiência se faz, não há objetos, nem luz, nem flores desabrochando - nada.
Lin-Chi estava em seu mosteiro, um pequeno mosteiro no alto de uma colina. Sentava-se sob uma árvore, perto de uma rocha, e alguém perguntou: “O que acontece quando alguém atingiu?” E Lin-Chi disse: - “Eu estou sentado aqui, sozinho: as nuvens passam e eu observo, as estações vêm e eu observo, visitantes às vezes aparecem e eu observo. E fico sentado aqui, sozinho.”
Só a testemunha, a consciência, permanece observando tudo. Todas as experiências desaparecem e só o próprio cenário de todas as experiências permanece. Tu permaneces; tudo está perdido. Lembra-te, porque confias em mim, que falo por metáforas - e então a imaginação é possível. Imaginazione: cuidado com essa doença.
Embora digamos que “a mente é uma luz brilhante”, ela está para além de todas as palavras e símbolos.
Embora a mente seja vazia em sua essência, contém e abarca todas as coisas.
Essas afirmativas parecem contraditórias: dizem que a mente é vazia e, logo depois, que ela contém tudo. Por que essas contradições? Porque essa é exatamente a natureza de toda a experiência religiosa. As metáforas precisam ser usadas, mas imediatamente deves ser alertado para não te tornares vítima das metáforas.
Ela é vazia em essência,
mas contém todas as coisas.
Quando te tornares totalmente vazio,
só então, poderás ser completo.
Quando já não fores,
então, pela primeira vez, serás.
Diz Jesus:
Se te perderes, alcançarás.
Se te agarrares a ti mesmo, perder-te-ás.
Se morreres, renascerás.
Se puderes apagar-te completamente,
Tornar-te-ás eterno, tornar-te-ás a própria eternidade.
Todas essas palavras são metáforas, mas, se confiares, amares, permitires que teu coração se abra para mim, então poderás entendê-las. Esse entendimento ultrapassa todos os entendimentos. Não é intelectual, mas se dá de coração a coração. É uma energia que salta de um coração para outro.
Estou aqui tentando falar contigo, mas isso é secundário. O essencial é saber se estás aberto para que eu possa derramar-me em ti. Se minha conversa contigo puder ajudar a fazer-te cada vez mais aberto, já terá cumprido sua tarefa. Não estou tentando dizer-te algo, estou apenas tentando fazer-te mais aberto - isso é o bastante. Então, poderei derramar-me em ti... pois, a não ser que sintas o meu sabor, não poderás compreender o que estou dizendo.