Meditação
Criada na Índia há mais de três mil anos, a meditação sempre existiu tanto nas principais religiões quanto nas organizações seculares. Ao longo dos milênios, técnicas meditativas vêm sendo empregadas em diversas tradições e linhagens internas, como o Budismo, Vedanta, Yoga, o Tantra e o Taoísmo (SATYANANDA, 1981). Diversos tipos de práticas foram cultivados entre as tradições do extremo oriente, mas a meditação foi a mais valorizada, recebendo atenção especial. As primeiras referências conhecidas são encontradas na Índia em registros datando de cerca de 1.500 antes do início da Era Cristã, escritas nos chamados Upanishad, capítulos especiais dos Vedas (a mais importante escritura do Hinduísmo). Há registros também em outros países e sistemas, como no Taoísmo primitivo (MURPHY et al., 1997). No contexto moderno, a partir da década de 1960, observa-se um crescimento exponencial de estudos relacionados cujos objetivos são a observação dos efeitos da meditação sobre diversos aspectos da saúde, especialmente da saúde mental. Mais recentemente, a prática baseada na auto regulação emocional e da atenção tem atraído cada vez mais pesquisadores e sido utilizada como aliada complementar eficaz junto ao tratamento de diversas doenças e, principalmente, transtornos mentais, como estresse, ansiedade, depressão e transtorno de pânico (FERREIRA-VORKAPIC; RANGÉ, 2010, p. 211).
De modo geral, pode-se dizer que a meditação se refere a uma variedade extremamente ampla de práticas que têm como objetivo central a alteração voluntária de estados e traços mentais. No entanto, as diferentes maneiras pelas quais se pode alcançar esse objetivo diferem significativamente e, por isso, não há uma definição clara com plena aceitação universal. A meditação tem sido desenvolvida e praticada por diversas razões, incluindo o cultivo do bem-estar e equilíbrio emocional, assim como para fins religiosos. Dentre as práticas mais comuns, estão a concentração na respiração, a recitação de um mantra, a visualização de imagens específicas, o cultivo do estado de compaixão, entre outras. Do ponto de vista cognitivo, a meditação pode ser conceituada como uma família de práticas regulatórias complexas e emocionais que afetam eventos mentais por meio do engajamento de um conjunto específico de sistemas de atenção.
Apesar de algumas tradições afirmarem não haver nenhum propósito ou objetivo específico, elas compartilham características comuns, como a de que cada prática representa uma técnica que precisa ser aprendida e treinada. Em segundo lugar, presume-se que cada prática induza a um estado reprodutível e distinto, claramente indicado por determinadas características físicas ou cognitivas reportáveis pelo praticante. Em terceiro, acredita-se que o estado evocado tenha um efeito previsível sobre a mente e o corpo de modo que, quando induzido repetidamente, possa trazer benefícios relevantes ao praticante e a redução de traços mentais e comportamentais indesejados. No entanto, é importante lembrar que a meditação difere dos processos cognitivos comuns, sendo mais do que somente concentração, contemplação, postura ou relaxamento. São técnicas ou métodos que permitem melhor regulação das emoções e distrações, permitindo uma percepção mais profunda de nós mesmos e do mundo que nos rodeia (FERREIRA- -VORKAPIC; RANGÉ, 2010, p. 211).