O Fundamento da Meditação
publicado por Osho
Inicialmente, eu gostaria de lhes dar as boas-vindas, porque vocês têm uma aspiração pelo divino, porque vocês desejam ir além da vida comum, em direção à vida de um buscador, e porque, apesar de seus desejos mundanos, vocês têm uma sede pela verdade.
As pessoas que sentem a sede pela verdade são afortunadas. Entre milhões de pessoas que nascem, somente umas poucas sentem a aspiração pela verdade. Conhecer a verdade é uma grande bênção, mas até mesmo a aspiração por ela já é uma grande bênção. Ainda que você não a alcance, já está o.k.; mas nunca ter experienciado a sede é um grande infortúnio.
Eu gostaria de dizer que não é importante conhecer a verdade. O que é importante é aspirar por ela, é você fazer todo esforço para experienciá-la, é trabalhar arduamente por ela e ansiar por ela, é estar determinado e fazer tudo o que for possível para tal fim. Se, apesar disso, você não alcançá-la, não importa. Mas nunca ter experienciado esta sede, esta é a maior tragédia.
Conhecer a verdade não é tão importante quanto ter um autêntico anseio por ela. Tal anseio é uma alegria em si mesmo. Se o desejo é por alguma coisa insignificante, não haverá alegria alguma, mesmo que ela seja obtida; mas se você anseia por algo significante, pelo sublime, ainda que não o alcance, você será preenchido com alegria. Eu repito: se desejar uma coisa pequena e obtiver, você não será tão feliz como se aspirar pelo sublime ainda que não o alcance... Ainda assim, você estará preenchido com alegria e felicidade.
O divino nascerá em você de acordo com a intensidade com que você busca por ele. Isto não significa que alguma alma ou energia suprema virá de fora e penetrará no seu ser. A semente já está presente dentro de você e ela começará a crescer. Mas ela crescerá apenas se você for capaz de dar algum carinho, algum calor e algum fogo à sua sede.
Quanto mais você aspirar pelo divino, maior será a possibilidade de crescimento da semente que está escondida dentro de seu coração, maior a possibilidade de que ela germine e se torne divina, de que ela se abra e floresça.
Se você já pensou em experienciar o divino, se já experienciou um desejo pelo silêncio, pela verdade, então sabe que a semente dentro de você está ansiando por germinar. Isto significa que alguma sede escondida dentro de você quer ser saciada. Tente entender que uma luta está sendo travada dentro de você, e você terá que ajudar nessa luta, dar apoio. Você terá que dar apoio porque não basta a semente ter germinado, também é necessário um ambiente mais nutritivo. E mesmo que a semente tenha germinado, isto não significa que ela irá desabrochar em flores. Para isto, muito mais será necessário.
De muitas sementes espalhadas pelo chão, somente umas poucas crescerão e se tornarão árvores. A possibilidade existe em todas: elas poderiam todas germinar e crescer, tornando-se árvores e produzindo muito mais sementes. Uma pequena semente tem o poder, o potencial de produzir toda uma floresta, ela contém o potencial de cobrir toda a terra com árvores. Mas também é possível que a semente com este imenso poder e potencial seja destruída e que nada surja a partir dela.
E isto é apenas a capacidade de uma semente. O homem é capaz de muito, muito mais que isto. Uma semente consegue criar algo tão vasto... Se uma pequena pedra pode ser usada para criar uma explosão atômica... Imensa energia pode ser produzida a partir dela. Quando alguém experimenta esta fusão internamente com seu ser, com sua consciência, este florescer, esta explosão, a energia e a luz são a experiência do divino. Nós não experienciamos o divino do lado de fora. A energia que nós produzimos através desta explosão de consciência, do crescer e do florescer de nosso ser, tal energia, ela própria é o divino. E vocês têm uma sede por esta energia. Por isto eu lhes dou as boas-vindas.
Mas isto não quer dizer que só porque veio aqui, você tem essa sede. É possível que você esteja aqui meramente como um espectador. É possível que você esteja aqui por uma vaga curiosidade. Mas nenhuma porta poderá ser aberta por meio de uma curiosidade superficial, e nenhum segredo será revelado a meros espectadores. Na vida, paga-se por tudo o que se recebe, e muito tem que ser sacrificado.
Curiosidade não tem valor algum, ela não o leva a lugar algum. Curiosidade não o ajuda a entrar em meditação. O que é necessário é uma sede essencial por liberdade, não curiosidade.
Se você carrega este intenso anseio e esperança dentro de si, então sob esta tremenda pressão a semente que está dentro de você irá desabrochar e começará a crescer. A semente não germinará por si mesma, ela necessita de certas condições. Ela necessita de muita pressão, muito calor para que sua película externa se rompa e o delicado broto interno cresça. Cada um de nós tem esta cobertura rígida, e se nós quisermos sair dela, não será por simples curiosidade. Assim, lembre-se: se você está aqui apenas por curiosidade, você irá embora com essa curiosidade e nada poderá ser feito para ajudá-lo. E se você está aqui como um espectador, você irá embora da mesma forma e nada poderá ser feito por você.
Assim, é necessário que cada um olhe para dentro de si e veja se ali existe ou não um autêntico anseio pelo divino. Cada um deve perguntar a si mesmo: ‘Eu quero conhecer a verdade?’ E que fique bem claro se a sua sede pelo divino é autêntica, se você tem um anseio pela verdade, pelo silêncio, pela felicidade. Se não, então compreenda que o que você fizer aqui não terá significado algum, será sem sentido, sem qualquer propósito. Se os seus esforços sem sentido não trouxerem frutos, não será a meditação a responsável; você será o responsável.
Assim, para começar, é necessário que você procure por um autêntico buscador dentro de si. E que algo esteja claro: você realmente busca alguma coisa? Se você busca, então existe uma maneira de encontrar. (...)
Se a sua busca é pela verdade, não existe poder algum na terra que possa detê-lo. Mas se você não anseia pela verdade, então também não existe poder algum na terra que possa dá-la a você.
Assim, primeiro você precisa se perguntar se a sua sede é verdadeira. Se for, esteja certo que um caminho está disponível. Se não for, então não existe caminho algum. A sua sede será o seu caminho para a verdade.
A segunda coisa que eu gostaria de dizer nesta introdução é que você muitas vezes tem sede por alguma coisa, mas não tem muita esperança de que vá obter o que deseja. Você tem um desejo, mas não é otimista a esse respeito. Existe o desejo, mas com um sentimento de desesperança.
Se o primeiro passo for dado com otimismo, o último passo também terminará com otimismo. E isto também deve ser compreendido: se o primeiro passo for dado sem qualquer otimismo, então também o último terminará em desesperança. Se você quer que o último passo seja satisfatório e bem sucedido, então o primeiro passo deverá ser dado com otimismo.
Eu estarei dizendo isto durante estes três dias, e continuarei a dizer enquanto estiver vivo: você deve ter uma atitude muito otimista. No que se refere ao seu estado de consciência, você consegue perceber que muita coisa depende de seus atos terem raízes na positividade ou na negatividade? Se você é um pessimista, é como se estivesse sentado num galho de árvore e, ao mesmo tempo, estivesse cortando esse galho.
Então eu lhe digo que estar aberto é muito importante nesta busca. Ser otimista significa você perceber que, se existe uma simples pessoa nesta terra que tenha compreendido a verdade, se existe uma simples pessoa na história da humanidade que tenha experienciado a felicidade e a paz divina, então não existe razão alguma para que você também não possa experienciar.
Não olhe para os milhões de pessoas cujas vidas estão cheias de escuridão, cujas esperanças nunca viram a luz do dia. Olhe para as pessoas na história que experienciaram a verdade. Não olhe para as sementes que não cresceram e não se tornaram árvores, que apodreceram e foram desperdiçadas. Olhe para aquelas poucas que foram bem sucedidas e experienciaram o divino. E lembre-se: o que foi possível para aquelas poucas sementes é possível para todas as sementes. O que um homem pode experienciar, qualquer outro homem pode também experienciar.
A sua capacidade como semente é a mesma de Buda, de Mahavira, de Krishna ou Cristo. No que se refere à iluminação, a natureza não tem qualquer favoritismo, todos os homens têm possibilidades iguais. Mas isto não parece ser assim porque muitos entre nós nunca sequer tentaram transformar essa possibilidade em realidade.
Assim, ser otimista é uma necessidade básica. Carregue esta certeza com você de que se alguém experienciou a paz, se alguém experienciou a felicidade, então isto também é possível para você. Não se humilhe sendo pessimista. Ser pessimista é insultar a si mesmo. Isto significa que você não se vê como merecedor de experienciar a verdade. E eu lhe digo: você é merecedor e certamente irá alcançá-la.
Tente e veja! Você tem vivido toda a sua vida com um sentimento de desesperança. Agora, nestes três dias de Campo de Meditação, nutra um sentimento de otimismo. Seja tão otimista quanto possível de que o sublime irá acontecer, de que definitivamente ele irá acontecer. Por que? No mundo exterior é possível abordar alguma coisa com otimismo e não ser bem sucedido. Mas no mundo interior, o otimismo é um dispositivo muito útil. Quando você está cheio de otimismo, todas as células de seu corpo são preenchidas com otimismo, todos os poros de sua pele são preenchidos com otimismo, toda respiração é preenchida com otimismo, todo pensamento é realçado com otimismo, toda a sua energia vital pulsa com otimismo e a batida de seu coração espalha otimismo. Quando todo o seu Ser está preenchido com otimismo, isto cria um clima dentro de você no qual o sublime pode acontecer.
O pessimismo também cria uma personalidade, um caráter em que toda célula está chorando, está triste, está cansada, está em desespero, sem vida, como se estivesse vivendo apenas aparentemente, mas estivesse morto em espírito. Se esta pessoa se colocar na jornada para procurar alguma coisa...E a jornada espiritual é a maior das jornadas. Homem algum já escalou um pico de montanha mais elevado que este e homem algum já mergulhou num oceano mais profundo. A profundidade do Ser é a mais funda e a sua altura é a mais elevada. Alguém que queira percorrer este caminho tem que ser muito otimista.
Assim eu lhes digo, por estes três dias mantenham um estado mental muito otimista. À noite, quando forem para a cama, caiam no sono, cheios de otimismo. E durmam com a certeza de que amanhã cedo quando se levantarem, alguma coisa acontecerá, alguma coisa poderá acontecer, alguma coisa poderá ser feita.
Tenham uma atitude otimista e, paralelamente a isto, eu gostaria de também dizer que, após muitos anos de experiência, eu cheguei à conclusão que a negatividade do homem pode ser tão forte que mesmo que ele comece a alcançar alguma coisa, é possível que ele não seja capaz de ver, devido à sua negatividade. (...)
Além de ter uma atitude positiva eu também sugiro que durante estes três dias você pense apenas sobre o que está lhe acontecendo. Não pense sobre o que não está acontecendo. Nestes três dias, tudo que acontecer, observe. E esqueça o que não acontece, o que não pode acontecer. Lembre-se apenas do que você experienciar. Ainda que tenha apenas um gostinho de paz e silêncio, alimente isto. Isto dará a você a esperança, isto o empurrará para a frente. Porque se você alimentar alguma coisa que não aconteceu, o seu momentum será perdido, e aquilo que realmente aconteceu será também destruído.
Assim, nestes três dias, em seus experimentos com meditação, preste atenção em toda pequena coisa que você experienciar, e faça disto a base de seu progresso. Não dê energia alguma ao que não acontece.
O homem tem sido sempre infeliz porque ele esquece o que tem e tenta ter o que não consegue. Ter este tipo de vida está absolutamente errado. Seja alguém que compreenda o que tem e viva com base nisto. (...)
Se você experienciar, ainda que seja o menor raio de silêncio, considere que você viu todo o sol, pois mesmo a menor experiência de luz irá ajudá-lo a alcançar o sol. Se eu estou sentado numa sala escura e vejo um fino raio de luz, existem duas maneiras de eu me relacionar com isto. Eu posso dizer, ‘O que é este pequeno raio de luz comparado com a profunda escuridão que me cerca? O que pode um pequeno raio de luz fazer? Existe muita escuridão por toda a minha volta.’
A outra maneira seria pensar, ‘Apesar de toda esta escuridão, existe pelo menos um raio de luz disponível para mim e se eu caminhar em direção a ele, eu poderei chegar até onde o sol está.’ É por isto que estou lhe dizendo para não pensar a respeito da escuridão. Se existir pelo menos o mais lânguido e minúsculo raio de luz, concentre-se nele. Isto fará crescer uma visão positiva dentro de você. (...)
A terceira coisa, é que durante estes três dias de meditação, vocês não estarão vivendo da mesma maneira que têm vivido. O homem é um robô, cheio de hábitos, e se viver confinado aos seus hábitos, o novo caminho da meditação será muito difícil. Por isso eu sugiro que vocês façam algumas mudanças.
Uma das mudanças durante estes três dias será falar o mínimo possível. Falar é um dos maiores males deste século. E vocês nem têm consciência do tanto que falam. Da manhã até a noite, até dormirem, vocês seguem falando. Ou estão falando com alguma pessoa, ou quando não há ninguém para conversar, vocês falam consigo mesmo.
Durante estes três dias, estejam conscientes sobre parar seu hábito de falar continuamente. E isto é apenas um hábito. Para um meditador, isto é vital. Durante estes três dias eu gostaria que vocês falassem o mínimo possível, e quando vocês falarem, deve ser uma conversa pura, não o bate-papo comum que têm todo dia. Sobre o que na verdade vocês falam todo dia? Essa conversa tem algum valor? Seria danoso para vocês se não falassem? Vocês estão simplesmente tagarelando, isso não tem muito valor. E se vocês não falarem, será danoso para os outros? Os outros iriam sentir que algo está faltando por não ouvirem o que vocês têm para lhes dizer?
Durante estes três dias lembre-se de que você não deve conversar muito com as outras pessoas. Isto será tremendamente útil. E se você tiver que falar será melhor que seja algo conectado a meditação e nada mais. Mas seria muito melhor se você não falasse de jeito algum. Esteja em silêncio o máximo possível. Eu não quero dizer que isto tem que ser tão rígido que você se force a ficar em silêncio, que escreva o que quer dizer. Você é livre para falar, mas não fique no bate-papo. Fale conscientemente e somente quando for necessário.
Isto irá ajudá-lo de duas maneiras. Um benefício é que você economizará toda a energia que é desperdiçada na conversa. E essa energia poderá ser usada na meditação. E o segundo benefício é que você se desconectará das outras pessoas e estará sozinho durante este tempo. Nós viemos a este local na montanha e seria um desperdício se todas as duzentas pessoas que estão reunidas aqui ficassem conversando umas com as outras, ficassem tagarelando. Então, você ainda estaria na multidão, como estava antes, e não seria capaz de experienciar o silêncio.
Para experienciar o silêncio não basta, simplesmente, estar nas montanhas. É também necessário que você se separe dos outros e esteja só. Você deve fazer contato apenas se for absolutamente necessário. Imagine que você é a única pessoa nesta montanha, e que não exista ninguém mais ao seu redor. Você tem que viver como se estivesse vindo aqui, sozinho, você está só e movendo-se sem mais ninguém. Sente-se debaixo de uma árvore, só. Não vá entrar em grupos de pessoas. Viva separadamente e só, nestes três dias. A verdade da vida nunca foi conhecida através da vida em multidão, ela não pode ser experienciada de tal maneira. Nenhuma experiência de alguma significância já aconteceu na multidão. Qualquer um que tenha tido um gostinho do silêncio, teve esse experimento em absoluta solitude, só.
Quando você pára de conversar com os outros, quando toda a sua tagarelice interna e externa pára, a natureza começa a comunicar-se com você de uma maneira misteriosa. A natureza está continuamente se comunicando com você, mas você está tão absorvido em sua tagarelice que não escuta a sua voz suave. Você terá que se aquietar para conseguir ouvir a voz que está falando dentro de você.
Assim, nestes três dias, a conversa tem que ser conscientemente reduzida. Caso você se esqueça e volte ao hábito de falar e novamente se lembre, pare exatamente naquele ponto e se desculpe. Esteja só. Você estará experimentando isto aqui, e você terá que tentar por conta própria.
Vá a qualquer lugar que você queira, sente-se debaixo de uma árvore, você esqueceu-se completamente que é parte da natureza. Você também não sabe que estando próximo da natureza fica mais fácil experienciar o sublime; nenhum outro lugar é mais fácil.
Aproveite ao máximo estes três incríveis dias. Esteja isolado, em solitude, e não fale a não ser o necessário. E mesmo que todos estejam quietos, continue a estar só. Existem muitas pessoas aqui e quando nós sentamos para a meditação, pode parecer uma reunião de pessoas meditando. Mas toda meditação é individual, um grupo não consegue meditar. Sentado aqui, você está num grande grupo, mas quando você vai para dentro, você está totalmente só.
Quando você fechar seus olhos, você se sentirá só, e quando você estiver silencioso, não haverá mais nenhum grupo. Haverá
duzentas pessoas aqui, mas cada uma estará somente consigo mesma e não com os outros cento e noventa e nove meditadores. A meditação não pode ser feita coletivamente. Toda prece, toda meditação é individual, é particular.
Aqui, esteja só, e também quando for embora. Passe a maior parte de seu tempo em silêncio. Não converse. Mas não será suficiente apenas parar de falar; você também precisará fazer um esforço consciente para parar a constante tagarelice que continua dentro de si. Você está sempre falando consigo mesmo e respondendo. Aquiete-se e pare com essa conversa também. É difícil parar esta tagarelice interna, mas diga a si mesmo com firmeza para parar com esse barulho, diga para si mesmo que você não gosta do barulho.
Converse com o seu Ser interior. Sendo um meditador, é importante dar sugestões a si mesmo. Tente isto de vez em quando. Sente-se só em algum lugar, diga à sua mente para parar de tagarelar, diga à sua mente que você não gosta disto, e você ficará surpreso ao ver que por um momento a sua tagarelice interna parou.
Por três dias dê a si mesmo a sugestão de não falar. Em três dias você notará a diferença... Pouco a pouco,a tagarelice vai diminuindo.
O quarto ponto: você talvez tenha algumas reclamações, alguns problemas – não dê atenção a eles. Se você enfrentar um pequeno problema ou dificuldade, não dê a ele qualquer atenção. Nós não estamos aqui para um entretenimento. (...)
Você já deve ter sentido muito aborrecimento, muita raiva das pessoas que lhe fecharam as portas, e talvez não tenha observado as flores que desabrocharam numa cerejeira, ou não tenha visto a lua nascendo. Você não se permitiu ter um sentimento de gratidão. Se tivesse permitido, não teria experienciado aquelas coisas.
Existe uma outra maneira de se relacionar com a vida, é quando você está preenchido com gratidão por tudo.E durante estes três dias você deve se lembrar de sentir gratidão por tudo. Sinta gratidão por aquilo que recebe e não se preocupe com o que não recebe. Esta é a base da gratidão. É sobre esta base que a despreocupação e a simplicidade nascem dentro de você.
Para resumir, eu gostaria de dizer que nestes três dias você tentará com firmeza ir para dentro, meditar e entrar no silêncio. Nesta jornada, uma resolução muito firme é necessária. A mente consciente onde todos os processos de pensamentos têm lugar é apenas uma pequena parte. O restante da mente é ainda mais profundo. Se dividirmos a mente em dez partes, a mente consciente seria apenas uma parte; as outras nove partes seriam a mente inconsciente. Nossos pensamentos e raciocínios acontecem em apenas uma parte, mas o resto do cérebro não está consciente disso. O resto do cérebro não tem nenhuma percepção disso. Quando nós tomamos uma resolução consciente para meditar, para entrar em samadhi, na felicidade sublime, a maior parte de nosso cérebro permanece ignorante dessa resolução. Essa parte inconsciente não nos dá apoio nessa resolução. Mas se nós não obtivermos o apoio dela nós não seremos bem sucedidos. Para ter esse apoio, um esforço consciente determinado é necessário. Eu vou explicar agora como fazer esse esforço consciente.
Quando você acorda, esteja com determinação, e à noite quando você for para a cama, ao deitar na cama, pense sobre sua resolução por cinco minutos e repita isso para si mesmo quando for dormir.
Eu vou explicar este exercício para se tornar determinado e você irá praticá-lo aqui e também na sua vida cotidiana. Como eu expliquei, com esta resolução, toda a sua mente, consciente e inconsciente, ambas vão decidir que ‘Eu ficarei silencioso, eu estou determinado a experienciar meditação.’
Na noite em que Goutama Buda alcançou a iluminação, ele estava sentado sob sua árvore bodhi e ele disse, ‘Eu não me levantarei deste lugar até estar iluminado.’
Você pode pensar, ‘Mas, qual é a relação? Como o não se levantar do lugar ajudou-o a atingir a iluminação?’ A resolução, ‘Eu não me levantarei...’ espalhou-se através de todo o corpo e ele não se levantou até se tornar iluminado. Surpreendentemente, ele tornou-se iluminado naquela mesma noite. E ele já estava tentando por seis anos, mas nunca antes com tanta intensidade.
Eu darei a vocês um pequeno exercício para intensificar a sua resolução. Nós faremos este exercício aqui e também à noite antes de dormir.
Se você exalar (o ar) completamente e então suspender a inalação, o que acontecerá? Se eu exalar completamente e então segurar o nariz, fechá-lo e não inalar, o que acontecerá? Em pouco tempo todo o meu ser vai lutar para inalar. Todos os poros de meu corpo e os milhões de células não irão gritar pedindo por ar? Quanto mais tempo eu segurar a minha respiração, mais profunda a vontade de respirar irá se espalhar em minha mente inconsciente. Quanto mais tempo eu segurar a respiração, mais a parte interior de meu ser irá pedir por ar. E se eu segurar até o último momento, todo o meu ser irá exigir ar. Agora já não é mais um simples desejo, não é apenas a camada de cima que está afetada. Agora terá se tornado uma questão de vida ou morte; agora as camadas mais profundas, as camadas de baixo irão também exigir mais ar.
Em tal momento, quando você alcança o estado em que todo o seu ser está faminto por ar, você deve repetir para si mesmo. ‘Eu vou experienciar meditação’. Naquele momento, quando a sua vida está exigindo ar, você deve repetir o pensamento, ‘Eu entrarei no estado de silêncio. Esta é minha resolução: eu irei experienciar meditação.’ Neste estado, a sua mente deve repetir este pensamento; o seu corpo pedirá por ar e a sua mente repetirá este pensamento. Quanto mais forte a exigência por ar, mais profundamente a sua resolução entrará no seu interior. E se todo o seu ser estiver lutando e você estiver repetindo a sentença, então a força de sua resolução crescerá muitas vezes mais. Desta maneira você alcançará a sua mente inconsciente.
Você fará essa resolução todos os dias antes das meditações diárias, e à noite você irá fazê-la antes de dormir. Repita a sentença e depois vá dormir. Quando você estiver caindo no sono, naquele momento, deixe que isto fique também martelando constantemente em sua mente: ‘Eu vou experienciar meditação. Esta é minha resolução. Eu entrarei no silêncio.’
Esta resolução deve ficar martelando em sua mente de modo que você nem perceba quando cair no sono. Durante o sono, a sua mente consciente fica inativa, mas as portas ficam abertas para a mente inconsciente. Se a sua mente fica repetindo esta idéia continuamente enquanto a mente consciente está inativa, ela pode então entrar na mente subconsciente. E com o tempo você observará uma mudança significativa, você verá mesmo nestes três dias.
Assim tente agora compreender o método pelo qual você pode fortalecer a sua resolução.
Esta é a maneira de fazer: primeiro respire devagar e profundamente, preenchendo a parte superior do pulmão o mais profundamente que puder. Quando você inalar o tanto que conseguir, continue a manter o pensamento, ‘Eu vou experienciar meditação’, e continue repetindo esta frase. Depois exale até um ponto em que você perceberá que não existe mais ar para exalar. Mas ainda existe. Então ponha o resto de ar para fora e repita a frase. Agora você perceberá que não há absolutamente mais nenhum ar. Mas ainda existe. Então ponha-o para fora. Não tenha medo, você nunca irá exalar completamente. É por isto que quando você percebe que não há mais expiração para ser feita, sempre ainda existe. Então tente também exalar isto. Exale totalmente, o mais que puder, e continue repetindo, ‘Eu vou experienciar meditação.’
É um fenômeno estranho: através disto, um processo de pensamento se desencadeia em sua mente inconsciente. Uma resolução intensa surgirá e você verá seus efeitos já amanhã. Por isto você tem que fazer sua resolução muito fortemente. Nós começaremos o experimento antes de deixar este local hoje à noite. Vocês deverão fazê-lo cinco vezes, ou seja, inalar e exalar cinco vezes e repetir o pensamento internamente por cinco vezes. Se alguém tiver algum problema cardíaco, ou outro problema, não faça com muito esforço, faça de uma maneira branda. Faça tão suavemente quanto possível, não se sinta desconfortável.
Eu falei sobre a vontade de experienciar. Vocês devem praticar isto todas as noites durante estes três dias, antes de dormir. Ao deitar na cama, repitam a frase na medida em que gradualmente vocês forem caindo no sono. Se vocês seguirem este processo diligentemente e as suas vozes alcançarem o inconsciente, o resultado será facilmente induzido e inconfundível. (...)
Vocês têm que manter a atenção focada. E então, a partir de amanhã nós começaremos com aquilo que tem que ser feito; nós começaremos o trabalho verdadeiro amanhã.”
OSHO – The Path of Meditation – Capítulo 1