Sobre fazer as pazes com as nossas sombras
publicado por Deva Harischandra
Nem sempre é fácil assumir as nossas sombras, nossos monstros, nosso lado sombrio e obscuro. Aquele lado que geralmente a gente tenta esconder até de nós mesmos. Reprimindo, fingindo que não existe.
Mas a verdade é que quanto mais negamos as nossas sombras, mais vivas elas se mantêm. As temos. E por que não reconhecer, olhar e acolher? Aceitá-las como partes de nós que são? Algo a ser olhado e trabalhado. Se não as olharmos, podem ser nossas fiéis companheiras por toda a vida.
Sensação de superioridade, agressividade, ciúmes, posse, orgulho, individualidade exacerbada, autossabotagem, egoísmo, hábito de mentir, inveja, maldade, julgamentos sobre si e sobre os outros, condenações, indiferença, intolerância, falta de empatia, enfim. Há muitas sombras e cada um de nós carrega consigo muitas delas...
Basta um comportamento, um olhar, uma atitude, um barulho, um incômodo, um ambiente, uma expressão, uma fala, um tom de voz, uma situação, uma coisa fora do lugar ou qualquer outra coisa externa que a provoque, que rapidamente ela sai de seu lugar escondido, guardadinho e se manifesta. As vezes de forma tão automática, que quando vemos já agimos e não nos resta mais o que fazer além de reparar os estragos na medida do possível.
Durante grande parte da vida podemos acreditar que elas são mesmo incontroláveis, que são impulsos naturais, que somos assim e que nada podemos fazer para interromper a sua manifestação.
Mas ao elevarmos um pouco o nível de consciência, percebemos o quanto as ações através dos impulsos das nossas sombras fazem mal a nós mesmos e a quem está a nossa volta.
A Terapêutica Tântrica, a Psicoterapia Tântrica e o Eneagrama de Personalidade possuem ferramentas que podem nos auxiliar no processo de autoconhecimento, na busca pela origem das nossas sombras e da identificação de quais sentimentos estão por trás delas, sustentando-as.
Compreender o porquê as temos nos possibilita observar, conhecer, saber o que traz nossas sombras à tona, quais sentimentos elas carregam, quais mecanismos de defesa nos utilizamos para não sentir a dor, perceber e entender a forma como agimos. E essa compreensão pode nos ajudar a quebrar esse ciclo e não chegar ao ponto de cometer as atitudes prejudiciais.
No início, é preciso vontade e dedicação em tirar as sombras do lugar de vergonha, de culpa, de repressão, do proibido, do que tem que ser oculto, e olhar, reconhecer, aceitar, acolher, compreender, encarar a autorresponsabilidade sobre elas e adquirir consciência de si. Ao fazermos esse exercício, logo esse movimento se torna cada vez mais natural e vamos aprendendo a lidar com elas.
Porque a gente se conecta com a própria essência, se integra, se vê com inteireza, se aceita como é, inclui as nossas partes, não que alimente e concorde com as sombras, mas lança sobre elas a força do assentimento.
Não é preciso travar uma luta interna, mas uma profunda aceitação. Quando aceitamos, é possível a transformação. Aceitar, tomar consciência de como agimos quando influenciados por nossas sombras, não significa que já vamos conseguir não mais deixá-las agir por nós por completo. Mas nos faz perceber que ao sentir aqueles impulsos, somos capazes de refletir sobre nossas atitudes, eles já não mexem com a gente da mesma maneira, e vamos aprendendo a mudar os padrões de comportamento.
Sabemos então, que a consciência das sombras e de suas influências por si só não resolve a questão. É ir se observando, conhecendo as motivações que nos levam a dar voz às sombras e ir mudando as crenças, comportamentos, visões, vícios e padrões.
Nós somos o tempo todo provocados por nossas sombras. Tomar consciência e se transformar através dela é que nos leva a não mais sentir vontade de deixar a sombra se manifestar por nós quando provocada.
Quanto mais nos conectarmos com a nossa essência: o amor, mais elevado estará o nosso nível de consciência e menos agiremos pelas sombras, pela personalidade, pelo ego. Nós não somos o conjunto de comportamentos e atitudes que acreditamos ser. Essas são as máscaras que vestimos para caber na sociedade. Que desde crianças vamos aprendendo a vestir para sermos aceitos, nos sentirmos amados, aprovados e reconhecidos. Vamos sendo podados em nossa espontaneidade, em nossa natureza.
Elevar o nível de consciência é o resgate da espontaneidade perdida. É o real encontro consigo mesmo, é o reconhecimento da nossa centelha divina, a conexão com a nossa essência. É nesse processo de autoconhecimento que vamos enxergando e fazendo as pazes com as nossas sombras.
Vamos compreendendo que a grande questão não é “Por que eu sou assim?”, mas “Pra que eu sou assim?”. O que eu preciso aprender com as sombras que carrego? O que tem por trás desses meus comportamentos? E vamos percebendo que elas são importantes para o nosso crescimento. Que as temos porque precisamos trabalhar essas questões que as criaram.
Que encontremos então o caminho para a aceitação das nossas sombras, observando e percebendo o que sentimos quando elas têm o impulso de vir à tona. É importante dar os nomes, reconhecer, tirar do campo da inconsciência e trazer para o campo da consciência, tirar do lugar onde eu simplesmente sou dominado pela sombra e trazer para um lugar onde eu consigo perceber o que acontece. E sem julgar, olhar pra ela, acolher, integrar essas emoções, perceber de onde vem isso, o que tem por trás desses sentimentos, se escutar, identificar a origem e ir tomando conhecimento de que é possível quebrar o ciclo e naturalmente transmutar esses sentimentos, e de verdade ir trazendo luz às nossas sombras.
Muita luz pra nós!