Sofro de ansiedade, insegurança e ciúmes: o que eu faço?
publicado por Shantideva (Osmar)
Você trouxe em sua mensagem o desejo de trabalhar aspectos da sua personalidade que resultaram em quadros de ansiedade, insegurança, ciúmes, etc.
Eu gostaria de dizer que a terapia corporal tântrica é bastante interessante como caminho para que você possa aprofundar e, consequentemente, ressignificar estes comportamentos.
Acho que o ponto de partida para te apresentar a abordagem é dizer que nós criamos movimentos de separação do nosso corpo emocional e energético, inspirados pelo contexto sócio-cultural ao qual estamos inseridos. Desde pequenos somos orientados a conter e controlar nossos sentimentos. Expressões de raiva, tristeza, medo, alegria devem ser controladas, pois há um modelo que diz o que nós deveríamos ser. Este modelo é o único que nossos pais, professores e demais cuidadores afetivos sabiam utilizar. Assim, desde crianças somos vistos como uma folha em branco que precisa ser moldada para atender a estes modelos ideais, ou seja, "darem certo".
Só que isso ocorre às custas de aprender a controlar (e reprimir) as nossas expressões emocionais, que são na verdade expressões naturais e orgânicas de fluxos de energia. Ao controlá-las, inevitavelmente desenvolvemos aquilo que Freud chamava de neuroses, que são estados de afastamento da nossa natureza vitalizada e confiante. Posteriormente a Freud, Reich aprofundou nesta temática, e provou o quanto nós aprendemos (de forma silenciosa, não verbal e não consciente) a controlar em nosso corpo estas expressões energéticas de cunho emocional. Assim, criamos um conjunto mais ou menos robusto de couraças, que são na verdade estados de tensionamento que impedem fluxos de bioeletricidade de circularem livremente. Além disso, aprendemos a controlar nossa respiração, inibindo a conexão com os sentimentos verdadeiros, abrindo assim espaço para que nossa dimensão egóica "invente" novos estados que sejam mais parecidos com aquele modelo ideal que os cuidadores afetivos nos apresentaram e torceram para que seguíssemos à risca, evitando qualquer "desvio".
Ora, nossa dimensão egóica vive na nossa superfície, intermediando nossa relação com o ambiente que nos rodeia, as pessoas e as tarefas que desempenhamos. Se nós criamos armaduras musculares, inevitavelmente nós criamos empecilhos para que nossa dimensão egóica pudesse perceber qual é a nossa realidade.
Para o Tantra, nós somos perfeitos da forma como somos. Não há que se dizer em afastamento do modelo ideal, pois este modelo ideal é uma ilusão criada com a falsa premissa que devemos ser algo que não necessariamente nos atende (apesar da nossa mente muitas vezes acreditar que sim, deveríamos realmente ser aquilo que nos apresentaram como modelo ideal).
Para o Tantra, a única coisa que realmente existe é quem você é agora, neste instante. E neste instante você é a soma de todos os eventos que presenciou e com os quais interagiu, os momentos felizes e os dolorosos, os momentos de relaxamento e os de tensionamento. O mais importante é que você, neste momento, ainda não é a sua melhor versão, pois você, tal como eu e os demais, somos seres em construção. Esta construção não deveria ser baseada em um lugar a se chegar, um modelo ideal a ser alcançado. A construção será mais interessante se for baseada em um diálogo criativo com o que é real. Neste momento, o que é real é que você sente ansiedade, insegurança, ciúmes e tais. Mas você não é isto, estes estados não te definem; eles são apenas o resultado do estado de repressão que você construiu em torno dos seus fluxos de energia e de expressão emocional. Lá atrás, sua dimensão egóica acreditou que estaria livre dos efeitos indesejados caso suprimisse certos sentimentos indesejados, certas expressões que "deveriam" ser controladas. Ao suprimi-las, armazenou-as em uma panela de pressão estrategicamente posicionada em nossas entranhas, acalentada em fogo constante pela nossa pulsão de vida. Porque, quer você queria ou não, todos nós temos uma pulsão de vida, fomos programados assim pela existência. Alguns de nós somos muito bem sucedidos em desativar esta pulsão de vida (vide os estados depressivos). Assim, encontramos formas de morrer em vida.
Nosso papel como terapia corporal é criar o campo de confiança para que você inicie o movimento de distensionamento das estruturas por você criadas para impedir que enxergue seu potencial criativo, seu potencial de criar o caminho que irá caminhar, independente do modelo que te disseram que deveria seguir. O modelo que irá seguir deveria dizer respeito a suas escolhas e suas potencialidades.
Me deixe falar sobre ciúmes. Por trás destes estados o que atua é o medo de perder, o apego a algo que supostamente nos sentimos proprietários. Pense em um rio. Cada gota de água que navega neste rio está em um fluxo constante, que ocorre em diferentes velocidades. Algumas vezes até mesmo há ausência de movimento, outras vezes há um turbilhão de movimentos.
Para a gota que está dentro do rio, não está claro para onde ela está indo. Aliás, não está claro o que virá depois da próxima curva. Se a gota de água confiar na sabedoria deste rio, ela irá apreciar cada paisagem que se descortina, se sentindo absolutamente privilegiada pelo fato que, após a próxima curva, virá uma nova paisagem que eu jamais havia visto antes. E ela sabe que esta paisagem que está sendo vista neste momento é impermanente, ela jamais será vista novamente. E que há sabedoria em torno disto.
Agora, se a gota que está dentro do rio não confia na sabedoria daquele processo, tudo o que ela quer é encontrar segurança. Tudo o que ela deseja é encontrar uma paisagem que sinalize que ali estará em segurança e protegida e, quando a gota encontrar esta paisagem (ou achar que encontrou), haverá uma luta intensa para se agarrar à margem e permanecer eternamente ali, em segurança, livre das "ameaças" de continuar seguindo junto ao rio.
Fazemos isso em nossos relacionamentos afetivos. Queremos ser salvos, ser resgatados, ser acolhidos pelo outro. No fundo, o que queremos é evitar seguir com o rio, pois achamos que somos muito inadequados para lidar com este fluxo que ruma em direção ao desconhecido.
E assim alimentamos estados de luta! Nossos ciúmes parecem ser manifestações do medo de perder, ao apego a algo que acreditamos que irá me salvar do fluxo da vida, que ruma ao desconhecido. Todos nós sentimos isso, e deveríamos perceber que não há problema em sentir ciúmes ou qualquer outra manifestação emocional. O problema é perdermos a percepção privilegiada de quais são as motivações por trás destes estados. O problema é não acolher nossa criança assustada que enxerga naquela pessoa (ou situação) a única resposta que me tiraria das situações de perigo.
Disse isso tudo acima para mostrar qual é a visão do Tantra e do nosso trabalho terapêutico.
Queremos que as pessoas que nos procuram encontrem sua própria vitalidade, porque ela está aí, ela está em todos nós. Queremos também que, a partir deste encontro com a sua vitalidade, com a sua pulsão de vida, sejam guardadas por você mesmo as armas que te mantém em estados de luta (para sentir, para não sentir, para atingir o modelo, para reprimir as dores, os medos, as inseguranças, para provar algo para os outros, para provar algo para sua dimensão egóica, etc...).
Queremos que as pessoas que nos procuram encontrem seu corpo vivo! E resgatem a vida de seu corpo físico, energético, emocional e espiritual.
Para criar este campo de confiança, nós iremos te conduzir em dinâmicas que envolvem respiração, movimento e som. Usamos para isto terapias de respiração, usamos meditações ativas poderosas, usamos técnicas de pulsação. E, dependendo da sua busca mais específica, podemos guiar-lhe também em técnicas de massagem tântrica, que atuam diretamente na criação de estados orgásmicos diferenciados.
Seja qual for o percurso terapêutico, a construção existe para que você resgate um estado de vitalidade que te permita vislumbrar onde exatamente você está repetindo padrões e atitudes que já não fazem sentido para seu processo pessoal, mas com os quais sua dimensão egóica está por deveras identificado.
Me diga se este diálogo faz sentido em sua busca!