Você sente vergonha de quê?
publicado por Deva Harischandra Jéssica
“Nossa! Não tem nem vergonha na cara!”, a essa expressão tão corriqueira entre nós, eu digo: “Quem me dera... É um objetivo pra mim! Quero ser bem sem vergonha!”
Mas o que é a vergonha?
Vergonha é produto cultural. É uma invenção humana de controle social. Só serve pra gerar culpa na gente, ou seja, nada positivo.
Você se recorda quando entrou em contato com os sentimentos de vergonha e culpa na sua vida? Na minha, eles estiveram presentes desde muito cedo, devido à minha criação. E desconstruir as ideias, padrões e crenças acerca deles, é um exercício diário.
Vergonha de quê?
Do próprio corpo.
De não ser perfeito(a).
De não ter a letra bonita.
De não atender às expectativas de uma sociedade doente, castradora e repressora.
De não seguir uma determinada religião.
De não estar no padrão social imposto, seja de beleza, seja econômico ou em qualquer outro aspecto.
De não ser bom/boa em determinada área.
De se relacionar com determinadas pessoas.
De gostar do que gosta.
Da nudez própria ou alheia.
Da própria sexualidade.
Dos desejos.
Da família.
De não se sentir capaz.
De ter feito uma bobagem.
De ter bebido além da conta.
De ter se alterado.
De ter se permitido ousar.
De ter saído da caixinha.
De sentir vergonha.
De não querer trabalhar.
De não ser aceito.
Dos julgamentos que caem sobre si.
Dos seus valores de vida.
De dançar.
De se expressar.
De se soltar.
De amar.
De se expor.
De rir alto.
De falar o que pensa.
De dizer não.
De se assumir na vida.
Da sua história.
Dos seus sentimentos.
De não se sentir adequado(a).
De não se sentir bem.
De se sentir desajustado.
De não se sentir suficiente.
De não se sentir capaz.
Da sua ancestralidade.
De se exceder.
De cair em um golpe.
De sofrer violências.
De cair.
Dos próprios genitais.
De chorar.
De não estar disposto(a) o tempo todo.
Etc.
São tantas as coisas das quais aprendemos a sentir vergonha. E se a gente parar pra pensar que isso tudo foi criado e a gente tomou, recebeu e acolheu como verdade absoluta...
Eu proponho uma avaliação das suas vergonhas e culpas. Observe-as, perceba que sensações trazem a você, pergunte de onde elas vêm, a quem pertencem... E devolva-as. Não são suas. Não carregue-as consigo.
Olhe para você com profundo respeito, foque na beleza que é ser você, um ser único, parte de toda a existência, com os seus talentos e luz próprios, que definitivamente não precisa carregar esses pesos inventados para fins de controle social.
Proponho também que observe o quanto tem contribuído para que outras pessoas sintam vergonha e culpa. Faça essa busca interna e se permita, sem vergonha de si mesmo(a) e culpa, enxergar as suas atitudes nesse sentido.
Avalie-as. Que tipo de sensações reproduzir esses comportamentos te traz? Uma ideia de superioridade talvez? De ser correto nessa sociedade? De ser digno do amor de Deus?
Será que julgar e condenar as pessoas demonstra minhas virtudes ou o quanto sou fraco(a) e necessito da aprovação dos outros? Diminuir o outro e fazer com que se envergonhe satisfaz o quê dentro de mim?
Acho que vale muito fazer essa reflexão. E a cada oportunidade que perceber que está prestes a contribuir para que alguém sinta vergonha ou culpa, repense e não o faça. Nada terá de contribuição nisso.
Ao invés disso, será que seríamos capazes de ensinar com amor e com exemplo, ao invés de duras críticas e julgamentos? Respeitando as pessoas como são e não querendo encaixotá-las em um modelo a seguir?
Eu desejo uma excelente reflexão pra cada um de nós e que a gente possa se libertar de vergonhas e culpas limitantes, torturantes, repressoras e que nada têm a nos acrescentar na vida.