O incômodo nosso de cada dia
publicado por Deva Harischandra
Na página 145, do livro “JESUS, o maior psicólogo que já existiu”, de autoria de Mark W. Baker, está escrito: “Odiamos nos outros o que não conseguimos suportar em nós mesmos. Uma das perguntas que me fazem de tempos em tempos é a seguinte: ‘Como posso saber o que existe no meu inconsciente que pode estar me prejudicando?’ Para responder a esta pergunta, digo às pessoas que pensem a respeito de tudo que elas não gostam nos outros. A seguir, peço-lhes para fazer uma lista das cinco coisas que mais detestam nas pessoas que as cercam. É provável que essas cinco coisas estejam enterradas em um lugar profundo que os analistas junguianos chamam de o ‘lado da sombra’ do inconsciente.”
Tenho observado as coisas que me incomodam nas outras pessoas e tenho percebido o quanto é verdade que somos espelhos uns dos outros. A cada crítica que trago sobre o comportamento alheio, começo a buscar em mim o porquê aquilo me trouxe alguma afetação. O que há em mim que quero suprimir, que não aceito e julgo no outro, e que busco deixar bem escondidinho em mim?
É incrível começar a perceber essas coisas acontecendo em tempo real. Atitudes dos outros que me atravessam e me balançam de alguma forma, muito têm a me ensinar sobre mim mesma.
Quantas coisas tenho percebido, que são julgamentos que na verdade eu aprendi, são comportamentos condicionados que nada têm a ver com o meu espírito. Na verdade, eu me acostumei a julgar assim devido ao meio em que vivi. Família, escola, sociedade, amigos e religião me ensinaram, e eu nem questionei. Apenas vesti as capas e máscaras que me foram apresentadas como as corretas, aquelas que deviam ser usadas por ser o que esperavam de mim. E segui... Tão dura comigo e com todos à minha volta. Quanto mais próxima a mim, mais julgada e condenada a pessoa por “suas” atitudes e pensamentos, que na verdade eram minhas reprimidas formas de enxergar a vida.
É tão lindo e libertador começar a se enxergar e ver possibilidades de pensar com a própria cabeça. Trabalhar a si mesma e poder curar suas próprias durezas e, pouco a pouco, passo a passo, devagar, mas progressivamente ir se permitindo e aprendendo a não se deixar afetar pelas atitudes dos outros.
Pra mim, não é fácil, não é de uma hora pra outra, não é simples. Tem exigido tempo, dinheiro e muita energia investida nesse propósito. Mas sem sombra de dúvidas, eu coloco no rol das coisas mais importantes que eu já fiz por mim.
É bem dolorido se olhar às vezes, se perceber uma tirana de si e dos outros. Mas ao mudar o olhar e começar a comemorar cada coisa que se percebe em si e não é nada agradável, mas que só pode ser mudada ao ser percebida, é uma sensação maravilhosa saber que está trazendo consciência de suas sombras. Encará-las, aceitá-las e acolhê-las, são os primeiros passos para transformá-las.
Se olhar com amorosidade, paciência, entender os próprios motivos, olhar para o que passou e se acolher, são muito importantes nesse processo. Só assim é possível uma mudança.
Reprimir, julgar, condenar e esconder, até aqui não tem de nada adiantado. Só têm mantido vivas em mim as características que tenho e não admiro. Ser dura, grosseira e juíza de mim mesma, em nada ajudou. Só me causou mal estar, negação e não me deixou nada à vontade em ser quem sou.
Aceitação plena, de forma amorosa é o caminho. É um exercício, toda vez que se observar se cobrando e maltratando, vire a chave. Olhe-se com amor, entendimento e acolhimento, e a transformação chegará.
O amor é o caminho e ele começa a partir do amor próprio.
É lindo perceber que somos espelhos naquilo que nos incomoda no outro, mas também é linda a consciência de que também somos espelhos naquilo que percebemos de bom no outro. Enxergamos tudo aquilo que temos em nós. Portanto, valorizemos também ao percebermos algo bonito no outro, você o percebeu porque também o tem.
Na página 147 do mesmo livro que citei ao início desse texto, o autor Mark W. Baker escreveu: “Jesus parecia compreender que quando nos descobrimos odiando alguma coisa nos outros devemos parar e verificar se temos algo parecido em nós. Condenar os outros por um defeito contra o qual lutamos em nós mesmos é como preocupar-nos com o ‘cisco’ nos olhos de uma pessoa, a respeito do qual nada podemos fazer, enquanto temos uma ‘trave’ no olho que requer uma atenção imediata. Às vezes, a cura do nosso ódio pelas outras pessoas começa com um exame sincero do que guardamos no inconsciente.”
Que a gente se permita crescer e caminhar por uma estrada cheia de flores. É possível aprender pelo amor e não pela dor. Cada vez mais percebo o quanto é assim que escolho aprender. De verdade!