A Quarentena Como Forma De Percepção da Própria Sexualidade Feminina
Que o contexto atual nos obriga a ficar em casa, isso todo mundo já sabe. Então, que tal tornar esse período, que por mais longo que possa ser, ainda que passageiro, um momento produtivo para si mesma?
Muitas mulheres recorrem à terapia tântrica pois têm uma enorme dificuldade para ter orgasmos ou sentir prazer. Parte dessa dificuldade pode estar relaciona a algum tipo de trauma experienciado, mas muito, por uma falta de conexão com seu próprio corpo, devido a não conhecê-lo, sendo isso, um claro reflexo da educação sexual falha e repressora, que muitas vezes envolve a herança de valores culturais que depreciam a sexualidade feminina.
Sendo sincera com você mesma, alguma vez você já experimentou olhar atentamente para o que você tem entre as suas pernas? O que gostaria de propor, é que durante esse período, que inevitavelmente tem nos obrigado a olhar para dentro, esse desafio seja vencido. Sim, acaba sendo um desafio, pois as mulheres crescem em um contexto em que são levadas a crer que o órgão sexual feminino não é algo bonito ou que tem cheiro desagradável. Ou que sua forma de se expressar no mundo é frequentemente julgado e podada por não ser “apropriada” dentro de padrões pré-estabelecidos. Ser receptiva consigo mesma, é respeitar a sua própria sexualidade e se orgulhar dela, e isso acontece, quando se propõe ao autoconhecimento e à autoaceitação.
Seguem aqui, algumas dicas que podem ajudar:
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Familiarize-se com a sua vulva. Crie uma atmosfera tranquila e agradável, podendo acender um incenso ou usar aromatizador de ambiente (o óleo essencial de Gerânio é maravilhoso para as mulheres!), com velas ou luz mais baixa, com uma música tranquila. De forma relaxada, procure conhecer a sua própria vulva. Com auxílio de um espelho, olhe de forma carinhosa e demorada para ela. Perceba como são os lábios externos (não gosto de chamar de grandes lábios, pois existem lábios internos maiores que os externos e tudo bem!) e os lábios internos. Entenda onde está o seu próprio clitóris (até porque é importante você mesma saber onde está para poder mostrar para o seu parceiro onde que é), como ele é e como é o seu prepúcio. Permita-se FAMILIZARIZA-SE com o seu próprio órgão e a ter uma atitude amorosa e amistosa com ele. Permita-se, tocar-se gentilmente e perceber quais as regiões que despertam alguma sensação no seu corpo. E procure tocar-se de forma diferente daquela que já conhece. Se a excitação sexual surgir, esfregue a mão em si mesma e cheire o odor natural das secreções em seus dedos. Dessa forma, perceba o seu próprio cheiro, que assim como você e a sua vulva, são ÚNICOS. Além disso, prove o seu próprio sabor. Tudo isso é parte do seu próprio corpo e por si só, isso já é lindo. Portanto, ame-o sem restrições e julgamentos!
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Represente a sua vulva de forma artística e de livre interpretação. Agora que já conheceu a sua vulva, proponha-se a desenhá-la. Use as cores e as formas que melhor a representem para você mesma, sem se apegar a qualquer padrão estético. Use toda a liberdade poética do mundo, pois o importante mesmo, não é o que ela é, mas o que ela significa para você. Deixe fluir a sua capacidade criativa.
Massageie os seus seios. Muitas mulheres também são críticas em relação aos seus seios, que também representam outro símbolo da feminilidade. Muitas acham que eles são muito grandes ou muito pequenos, muito pontudos ou flácidos, com estrias. Assim como sua vulva, acredite: eles são lindos, porque eles são seus. Ainda em uma atmosfera relaxante, deite-se ou se sente em uma posição confortável com os seios nus. Feche os olhos e esfregue uma palma contra a outra, até que estejam aquecidas. Depois, coloque- as na parte inferior dos seios, abaixo dos mamilos. Em movimento circular, massageie gentilmente, ao redor do seio todo, sem tocar os mamilos. Gire a mão direita em sentido horário e a mão esquerda em sentido anti-horário. Faça nove círculos e então, mude as direções, movendo a mão esquerda em sentido horário e a mão direita em sentido anti- horário. Repita o conjunto de nove por quatro vezes em cada direção. Esse exercício é sugerido por Felice Dunas & Philip Goldenberg, e é conhecido pelo seu efeito curador, tanto físico como emocional.
Toque todo o seu corpo de forma presente. Pode ser durante o banho ou então passando hidratante pelo corpo, mas se toque de forma presente. Sinta a existência dos dedos dos pés, dos pés, dos calcanhares, das panturrilhas, das canelas, das coxas, do quadril, do abdômen, da lombar, do peito, dos ombros, dos braços, das mãos, do pescoço, da face, do couro cabeludo, das orelhas. Aprenda a se abraçar de corpo inteiro!
Dance. “A dança é a linguagem escondida da alma (Martha Graham)”. Além de ser terapêutica, ajuda a se manter presente e conectada com o seu próprio corpo, além de ser um excelente veículo de expressão de sentimentos. Escolhe a tua música favorita e vai dançar na sala sem medo de ser feliz. Aproveita e se perceba! Permita-se explorar os mais diversos movimentos, sem julgar-se. Seja ele no plano baixo (chão), médio ou alto (de pé).
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Alongue-se e Medite. Hoje, mais do que nunca, existem muitos canais ou perfis virtuais que podem auxiliar nesse quesito. Alongar-se é uma excelente forma de cura para o corpo, pois ajuda a liberar muitas energias que estão estancadas em determinados pontos. Além disso, é uma excelente forma de trabalhar a respiração. E lembre-se: a respiração é a chave para se manter presente no momento, e estando presente no momento, melhor será a forma de você se conectar com você mesma, com o seu corpo, que é o seu templo sagrado. E a meditação, que também, ajuda e muito nesse processo de conexão, sem contar todos os outros benefícios para a saúde que estão associados com essa prática.
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Fotografe-se. Faça autorretratos ou “nudes” para você mesma. Essa é uma forma muito produtiva de se conhecer. Brinca com as suas próprias expressões: seja ela sexy, alegre, triste, ousada, recatada. O importante é expressar-se e dar vazão para aquilo que se sente. Seja pela expressão facial ou corporal.
Bom, essas são algumas dicas que podem ajudar você a se perceber de outra forma, e a transformar esse período em algo produtivo em termos de autoconhecimento. E lembre-se sempre: independente da forma, da cor, do cheiro, da natureza do sentimento que qualquer uma dessas atividades evocar em você, acolha-os sem qualquer julgamentos. Aquilo que você sente e é, independente da forma, é seu e só seu. Talvez o que melhor represente isso seja a seguinte passagem: “Nunca existiu uma pessoa como você antes, não existe ninguém neste mundo como você agora e nem nunca existirá. Veja só o respeito que a vida tem por você. VOCÊ É UMA OBRA DE ARTE- impossível de repetir, incomparável, absolutamente única.” (Osho).
NEERA PREM, terapeuta filiada à Rede Metamorfose