Deixe ir. Deixe vir.
publicado por Sasha - TANTRA TERRA
Os ventos que sopram e te trazem algo, são os mesmos que vem e levam. Sobre o apego a dificuldade de aceitação, mudanças e perdas.
Somos seres em constante mutação e isso nem sempre é muito bem aceito por nós humanos, parte de um processo natural que faz com que tudo se modifique, transforme e transite. Hoje decidi compartilhar algo muito particular, mas que também diz sobre meus próprios acessos de transição e mudança e que o Tantra me ajuda muito a perceber a forma e o estão em que estou.
Há alguns dias, muito recente, o ano virou, a comemoração foi diferente dos demais anos, estamos em uma pandemia ainda, e quiçá, queira eu, não por muito tempo. Um ano que entrou diferente e arrebatou logo de inicio com a morte do meu irmão mais novo, de forma muito cruel, que não sabe aqui detalhes.
Estava na minha cidade quando tudo aconteceu e por sorte tive papel ativo em tudo e por mais sorte ainda, pude perceber que tudo que trabalho ao longe de muitos anos de alguma forma funcionou, pelo menos dessa vez, nessa experiência arrebatadora.
A morte é um processo que estamos fadados a enfrentar, cabe isso ao papel da vida. “Basta estar vivo pra morrer”, já diria um antigo ditado. Tive calma, tive consciência, tive insônia, tive ansiedade, tive o contato o corpo já sem vida, com o fugaz que pode ser cada momento, tudo ao mesmo tempo. Precisei respirar fundo em muitos momentos e simplesmente aceitar e deixar ir o que precisava ir, e deixa vir o que tinha que vir para o meu trânsito nesse processo todo. Me perceber e perceber o outro sem julgar, apenas sentir. Incluo aqui a “escolha” do meu irmão com tudo que houve e a forma com que “decidiu” partir.
Ainda o sinto por perto o tempo todo, em sonhos, em alguns momentos do dia onde estou em total presença, e estou aprendendo a ver a morte física como um processo de renascimento. O corpo fica, a consciência vai pra um outro lugar, mas ainda com acesso por nós. Basta silenciar e deixar com que a coisa caminhe por si. Temos o nosso papel, mas avida também tem o dela e precisamos deixar com que ela também faça seu trabalho. Tempo ao tempo.
A verdadeira morte acontece todos os dias, ensaiamos ao dormir nossa própria morte, ou melhor, renascimento. Todos os dias permitimos que nossa consciência deixe o corpo e vá para lugares onde não é tão fácil acesso enquanto matéria envoltos nas praticas do dia a dia e que nos tomam por vezes o abismo do piloto automático. A verdadeira morte, acontece enquanto estamos vivos, presentes, enquanto mudança, dinamismo, querendo aprender algo sobre nós mesmos ou sobre alguma coisa.
Uma mudança de consciência, de opinião, de corpo, de habito, de referência, de percepção, é uma morte. Um estado repentino de espirito, de humor, de prazer é uma morte. La petite mort em francês, também conhecida como “A pequena morte”, refere-se ao período refratário que ocorre depois do orgasmo. Tudo está pautado sob os aspectos da entrega, da fluidez. Entrega é a chave, e pra se ter entrega, precisamos de presença, fluxo e aceitação.
A prática diária dos ensinamentos tântricos te ajuda não só a potencializar a sua energia vital como também a saber conduzi-la, e nessas horas de morte/renascimento é de suma importância sua identificação com sias arestas internas e processos de sabotagem que não lhe permitem total fluidez no que a vida lhe aparece como recurso de transição.
O Tantra me ajuda todo dia de forma vital em todo e qualquer processo de aprendizagem e passagem da vida, da morte e de meu futuro renascimento por mais que ainda haja uma dualidade entre minhas emoções e meu intelecto. Não deixo de sentir medo e não deixo de sentir falta ao que me cabe saudade, mas sei deixar ir mesmo que meu coração insista em manter em presença o que se foi.