Nudez
publicado por Deva Harischandra
Como é a nudez pra você? A sua própria e a das outras pessoas? Acha belo? Vulgar? Te incomoda ou de fascina de alguma forma?
Há quem se sinta muito bem, livre, em paz consigo mesmo(a). E há quem não seja capaz de estar nu sem se lançar críticas o tempo todo, sem sentir vergonha do que se é, estando desconfortável com a nudez, seja por prisões a padrões de beleza impostos socialmente ou por uma visão religiosa de culpa, de corpo como fonte de pecado, como se algo estivesse muito errado.
Algumas pessoas sentem um peso enorme no simples fato natural de estarem nuas até mesmo sozinhas, se sentem desconfortáveis, inadequadas. E ainda muito mais se estiverem na presença de outra(s) pessoa(s). Trocar de roupas na frente de alguém pode ser um grande desafio para muita gente.
Pra mim já foi muito assim. Não me recordo muito como aconteceu, mas me lembro bem de aos 6 anos de idade mais ou menos, ficar aterrorizada ao ter sonhado que meus pais haviam me visto nua. Como pode tão pequena ainda já encarar a nudez como algo tão desconfortável, errado e proibido?
Ficar nu(a) diante do parceiro(a) pode ser ainda mais difícil para algumas pessoas. Um momento que deveria ser prazeroso, uma troca cheia de momentos agradáveis, pode se tornar uma tortura se carregamos medos, vergonhas, inseguranças, culpas e receios relacionados à nudez.
Desconstruí-los é fator fundamental para uma vida saudável, para a permissão ao amor próprio, ao prazer com plenitude, à aceitação do que se é, e de inúmeras possibilidades de viver com alegria, desfrutando a vida de verdade.
Também já foi muito difícil pra mim ficar nua sem me criticar, ficar nua diante de outras pessoas então, muito mais, quantas vezes já fiz sexo com muita vergonha do meu corpo e das minhas reações...
Olhei minha yoni no espelho depois dos 36 anos somente, após conhecer o Tantra. Negligenciei meu prazer por falta de amor próprio e por muitos outros motivos por tanto tempo. Dormir nua já foi tão difícil pra mim, me masturbar então, gerava uma culpa enorme...
É tão incrível olhar pra trás e perceber o quanto o Tantra me ajudou a superar cada uma dessas coisas. Olhar-me com amor, reconhecer meu corpo de prazer, gostar de mim, tudo isso é muito libertador.
O corpo é tão bonito, é um organismo vivo fantástico, que nos proporciona ter as mais diversas sensações, experiências e vivências. Deveria ser visto por nós todos como tal. Desde cedo, deveríamos ser estimulados a valorizá-lo, a percebê-lo como único e incomparável ao invés de querermos todos nos moldar nas mesmas formas.
E se falarmos de outra forma de nudez, a que se esconde por trás das máscaras sociais, do ego, das coisas que mostramos ser aos outros para que sejamos socialmente enxergados como “cidadãos de bem”, dentro das caixas de esperam de nós, conforme o modelo socialmente aceitável, pode ser ainda mais difícil ter coragem para nos despirmos. Talvez nesse sentido, as perguntas iniciais do texto fossem ainda mais complicadas de responder.
Vale a reflexão, de nos olharmos com carinho, com amor e com verdade. Procurarmos essas respostas com honestidade, e percebermos como temos nos tratado, como temos nos sentido e tratado nossos corpos e nossas almas. Se nos permitimos nos despir em algum nível diante de tantas opressões e se vale a pena sobreviver nesses pequenos modelos que nos ensinaram em muitos lugares (família, escola, religião, sociedade), como o caminho correto a ser seguido. Caminho esse, que é o mesmo para todos, que não leva em consideração nossa riqueza de diversidade de potenciais, habilidades, talentos, vontades, desejos, propósitos, corações, almas...
Estamos vivendo de forma a sermos levados pela correnteza, sem nem nos dar conta da própria vida que passa, ou estamos de fato vivendo de acordo com o que escolhemos, atentos e disponíveis aos presentes que a vida nos traz, nos permitindo a nudez de corpo e alma numa vida cheia de nutrição, amor, prazer e verdade?
Desejo que possa se sentir seguro(a) em estar nu(a) quando quiser, de corpo ou de sentimentos, com pessoas que possam receber e compartilhar a nudez, de forma bonita, sincera e humana.
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