Tempo
publicado por Deva Harischandra Jéssica
Com a Revolução Industrial surgiram ideias como “Tempo é dinheiro”, “Não podemos perder tempo”, “Ficar sem produzir algo que gere dinheiro é perda de tempo”...
E acaba que a maioria de nós assumiu para si essas ideias como verdade absolutas. Vestimos esse modelo social imposto e o carregamos até hoje.
É importante ter consciência de que nada na vida é definitivo, que podemos fazer escolhas diferentes e transformar nossas vidas para que tenhamos mais prazer em vivê-las.
Sou professora de História, e quando pergunto aos estudantes a motivação pela qual estudam, a esmagadora maioria me responde: “Para ser alguém na vida”. Eles são tão jovens e já trazem essa ideia de que no futuro, se estudarem, se seguirem a cartilha imposta pela sociedade, podem um dia “ser alguém na vida”. Eu sempre digo a eles que já são alguém na vida, que a hora de viver e aproveitar a vida é o agora e não ficar esperando para viver futuramente, como se não tivesse valor nesse momento.
Conforme a gente vai crescendo, vai seguindo os passos que nos foram ensinados de acordo com as engrenagens sociais (estudar, escolher uma carreira, fazer uma faculdade, ter um emprego que nos pague o que consideramos um bom salário, casar, ter filhos, e tentar se anestesiar de nossas escolhas aos finais de semana). Vamos esquecendo de nos divertir, de prezar pela leveza, de celebrar a vida, de fazer o que é preciso com prazer, de respeitar as nossas necessidades vitais, de repousar, de ter momentos de puro lazer, do quanto as trocas com as pessoas que amamos são significativas e importantes.
Muitas vezes, acabamos por sobreviver, em meio a uma rotina estafante e desagradável, odiando as segundas-feiras, suportando as semanas, esperando ansiosamente pelos finais de semana e feriados, e nos sentindo depressivos nos domingos à noite. E esse ciclo vai girando da mesma forma, nos consumindo, a vida vai passando e nós estamos ali, atendendo às expectativas sociais, cumprindo as nossas “obrigações”, desempenhando nossos papéis e esquecendo que há vida a ser vivida.
Desconstruir as crenças de que “A vida é assim mesmo”, “A vida é uma luta”, “É preciso matar um leão por dia”, “Nada vem fácil”, entre outras do mesmo teor, é importante para sairmos desse modelo de sobrevivência que nos foi apresentado.
Essas imposições, ideias e crenças, apenas nos transformam em robôs desesperados por um momento que se possa sair da rigidez mecânica vigente, ou nos fazem ser ainda mais rígidos e reprimidos, a ponto de querer impor, criticar e condenar os que conseguiram se libertar.
Nós podemos repensar os modelos que nos foram transmitidos, questionar se essa é a vida que queremos, se tempo é dinheiro ou se tempo infeliz é vida desperdiçada.
Somos muito mais do que uma engrenagem na máquina, a vida é muito mais do que pagar boletos e cumprir obrigações, temos à nossa disposição muitas possibilidades de mudança. Que a gente possa se abrir a elas, enxergá-las e tomar posse do nosso poder de decisão sobre nossas vidas, e consiga encontrar caminhos que nos ajudem a sermos leves, independentes, livres, espontâneos.
Pode parecer difícil essa mudança, mas não é impossível. Podemos caminhar contínua e progressivamente rumo a nos encontrarmos enquanto seres livres e autônomos que somos. Sejamos pacientes e celebremos cada passo rumo a essa consciência de que somos verdadeiramente donos de nossas vidas.
Tempo é vida, que ele seja vivido com presença e liberdade!