Caixas Sociais
publicado por Deva Harischandra
Você já parou pra pensar em quantas “caixas sociais” se colocou ao longo da vida? Ensinado por seus pais, sua família, seus professores, sua cultura, seus grupos sociais...
Consegue perceber e distinguir o que faz porque realmente tem algum sentido pra você, do que faz para agradar a outras pessoas, para se sentir aceito, amado, aprovado, dentro do padrão dito normal e aceitável?
É muito louco olhar para a gente mesmo e perceber que a gente já não sabe o que é, que passou tanto tempo se enquadrando em modelos socialmente aceitáveis e esperados pelos outros que a gente seguisse, que a gente acaba se perdendo em meio a tantos ensinamentos.
Criamos um ego, várias máscaras, vários padrões a que chamamos de personalidade e por vezes nos orgulhamos deles, porque aos olhos da sociedade representamos um exemplo a ser seguido de acordo com os padrões impostos.
Eu adoro a música “Eu não sei na verdade quem eu sou” da banda “O Teatro Mágico”. Em um trecho dela, diz assim:
“Eu não sei na verdade quem eu sou
Já tentei calcular o meu valor
Mas sempre encontro sorriso e o meu paraíso é onde estou
Por que a gente é desse jeito
Criando conceito pra tudo que restou?
Meninas são bruxas e fadas
Palhaço é um homem todo pintado de piadas
Céu azul é o telhado do mundo inteiro
Sonho é uma coisa que fica dentro do meu travesseiro
Mas eu não sei na verdade quem eu sou
Já tentei calcular o meu valor
Mas sempre encontro o sorriso e o meu paraíso é onde estou
Eu não sei na verdade quem eu sou”
E é isso. A gente é ensinado a ser tanta coisa que depois fica sem saber quem é de verdade.
Há tantas coisas legais em conseguir se desprender desses padrões. Sei que ainda tenho muito a desconstruir, mas há algumas coisas pelas quais já sou muito grata em conseguir enxergar com outros olhos:
- Como fomos influenciados pela ideia do antropocentrismo: o ser humano no centro de tudo. O quanto já agimos mal com o planeta por conta dessa ideia. Essa supremacia do ser humano revela apenas uma arrogância enorme. A mim faz muito mais sentido a ideia da vida no centro de tudo. Nos falta muito ainda para nos integrarmos à Mãe Terra e a todas as suas fontes de vida exuberantes e maravilhosamente ricas. Somos todos parte desse imenso organismo vivo e nós humanos, em sua grande maioria, não temos nos sentido e agido como tal.
- O amor. Fomos ensinados que o amor deve ocorrer entre um homem e uma mulher e que é pra vida toda. É incrível perceber o quanto isso é uma grande falácia. Há tantas formas de amar e não tem nada de errado com elas. Como somos capazes de julgar e condenar uma pessoa porque ela ama? Não há do que se envergonhar do amor que se sente. Transborde, distribua, nutra a quem você quiser com o seu amor. Isso é lindo!
- Divórcio. Quantas mulheres e homens entre nossos ancestrais viveram casamentos em que não se sentiam felizes? Estavam apenas aprisionados em uma caixa social, sobrevivendo como podiam a relacionamentos fadados à tristeza e à insatisfação. Relacionamentos abusivos, violentos, castradores, sem amor e sem prazer, apenas para satisfazer as pressões e a vontade dos olhares alheios de uma sociedade que impôs que casamento tem que ser pra vida inteira. Que não importa ser feliz, mas importa estar casado com a primeira pessoa com quem você se comprometeu ou comprometeram você.
- O quanto somos contaminados pelo machismo que faz sofrer a todos. De formas diferentes, mas o machismo acaba gerando dor a todo mundo.
- Lembro de uma vez, em uma conversa entre grandes amigos (que ainda tenho a alegria de tê-los com enorme importância na minha vida), quando eu tinha cerca de 24 anos.
- Eu tinha me separado de um namorado com quem morei junto por três anos. Estava falando com uma das amigas que estavam à mesa, que estava interessada em um amigo dela. Eu ainda não o conhecia, apenas o achava bonito. Recordo que expus a meus amigos que me preocupava se ele iria querer ter alguma coisa com uma pessoa que já tinha sido “casada”, como eu.
- Lembro também o quanto julgava outras mulheres, como se não fossem dignas de respeito e gostava de ser elogiada por ser diferente delas. Hoje fico muito feliz em perceber que me tornei uma mulher que seria muito julgada e condenada por mim naquela época. Como isso é libertador e me sinto bem em notar o quanto amadureci e mudei o meu olhar sobre tantas coisas. O Tantra teve um papel muito importante nessas desconstruções e eu sou extremamente grata por isso.
- Sexo. Já enxerguei o sexo como algo errado, proibido, algo que deveria ser feito com muitas restrições. Que tinha muitas regras que deveriam ser seguidas. Tinha muitas amarras e tabus com relação a esse assunto.
- É incrivelmente maravilhoso conseguir enxergar o sexo como algo natural e parte muito importante na vida. Algo sagrado, fusão de energias, o ato que funciona como um portal que traz a vida a esse plano. Algo transcendental, de união com o todo, de estado meditativo, de amor, prazer, saúde e bem estar.
- Títulos. Já dei tanto valor a eles. Um valor diferenciado às pessoas que os tinham. Na universidade entrei em contato com tanta gente que se achava no direito de humilhar, que se sentia tão superior por tê-los. Pessoas que se sentiam gloriosas por ter alcançado títulos, mas que transpareciam uma tristeza tão grande, uma dureza tão forte consigo e com os outros. Que se agarravam aos títulos por acreditarem que era o que lhes conferia algum valor. E eu já achei de verdade que títulos fossem importantes pra tornar as pessoas especiais em algum sentido.
- De que valem os títulos se não for pra fazer a diferença positiva na vida das pessoas, dos seres em geral, ou do planeta?
- Tive a oportunidade de conhecer pessoas que não possuem títulos, mas com uma sabedoria gigante e extremamente significativa de fato.
- Educação. Quantos valores nos são incutidos e passamos a vida acreditando que de fato eles têm valor?
- Temos uma educação que nos leva a buscar ter, para que possamos nos sentirmos alguém.
- Estudar coisas que não nos fazem o coração vibrar, trabalhar em algo que nos suga as energias, fingir que construímos uma família, quando na verdade a destruímos diariamente. E ficar assim, sobrevivendo, esperando o final de semana chegar, na expectativa de aliviar o peso da vida, e vamos sobrevivendo até a morte chegar.
- Educamos nossas crianças a acreditarem que precisam agir de determinada forma para que possam ser amadas e aceitas. As doutrinamos de forma tal a suprimir a sua espontaneidade. São criadas para agradar aos outros e não para serem quem são.
- Religiosidade. Por vezes, a sociedade impõe que determinadas formas de religiosidade são aceitas e outras não. A pessoa tem uma religiosidade considerada louvável de acordo com a caixa social e tendemos a julgar que é uma pessoa de boa índole e caráter.
- Incentivamos as pessoas a criticarem a religiosidade do outro e a se podarem e fragmentarem para caber em caixas que as sufocam.
Há diversos padrões, modelos, exemplos a serem seguidos ou não. Faz muita diferença na vida a gente conseguir refletir sobre eles e questioná-los. Perceber se fazem sentido ou se são somente caixas sociais, que nem percebemos como, mas acabamos ficando presos nelas.
Há outras inúmeras questões que devem ser avaliadas. Que a gente possa se descobrir, abrir os canais de conexão com a nossa própria essência e se libertar de todas as caixas sociais que não nos representam.
Pense, reflita, reveja, não se permita mais entrar em caixas que te aprisionam. Não importa o que tenhamos vivido em nossa infância e em nossa história. Agora, como adultos, somos capazes de assumirmos as rédeas da nossa vida e sairmos dos padrões que não nos fazem sentido. Sejamos livres, felizes, conscientes, amorosos, empáticos, tolerantes e ternos. Sejamos nós mesmos.