Labirinto de nós mesmos
Cada ser humano tem uma obra prima a oferecer para a humanidade, para o universo, que é a sua própria vocação.
Todos nós somos filhos e filhas de uma promessa, por meio da realização de uma tarefa individual intransferível, esta missão nos convida a penetrar no labirinto de nós mesmos em direção ao nosso eu verdadeiro.
É uma ótima definição do conceito, pela organização mundial da saúde, que focaliza a saúde não como ausência de sintomas e, sim, como a presença de bem estar psicossomático e social. Foi incluído o bem estar ambiental e espiritual.
Talvez possamos agregar a esta bela definição de saúde uma tendência ao que integra, ao que harmoniza.
Nesse sentido, patologia seria o mal estar produzido por uma tendência ao que desintegra, ao que dissocia, ao que desarmoniza, ao que nos distancia desse núcleo do “Ser que nos faz ser''.
Na história da saúde emocional já foi exposta a repressão da sexualidade, do poder e do sentido com suas nefastas consequências. Precisamos também expor com clareza e vigor a repressão do que temos de maior e mais elevado: o potencial humano de lograr qualidade total de florescer plenamente.
Creio que nossas reflexões estejam colaborando no sentido de desmistificar a palavra santidade, ou plenitude que representa uma herança potencial em cada um de nós. A possibilidade de florescimento evolutivo é projetada em apenas algumas pessoas, veneradas como se fossem supra humanas. Isto é uma alienação comodista e irresponsável. Como disse Eckhart: Deus está mais próximo a mim do que eu mesmo.
A crise que vivenciamos é de pequenez de alma. Perdemos de vista a vastidão do projeto humano. Toda a história da plenitude humana fala de um mesmo processo de resgate de si mesmo.
Ser tudo aquilo que realmente somos é uma conquista do processo de individuação da travessia das sombras rumo ao Ser, processo que jamais termina e que começa com o primeiro passo neste labirinto de nós mesmos.
Labirinto não é uma trilha reta. É uma espiral plena de curvas. Às vezes estamos tão próximos do centro e a curva nos leva para longe. Às vezes estamos tão distantes do centro, e outra curva dele nos aproxima.
Renova-te.
Renasce em ti mesmo.
Multiplica os teus olhos, para verem mais. Multiplica-se os teus braços para semeares tudo. Destrói os olhos que tiverem visto.
Cria outros, para as visões novas.
Destrói os braços que tiverem semeado,
Para se esquecerem de colher.
Sê sempre o mesmo.
Sempre o outro. Mas sempre alto.
Sempre longe.
E dentro de tudo.
-Cecília Meireles-