Casais homossexuais contam suas descobertas com o sexo tântrico
publicado por Carolina Prado e Simone Cunha
UOL Universa
em 11/dez/2018
com Prem Dinoo (Alfredo Netto)
"Conheci o Tantra com minha ex-parceira, tínhamos um relacionamento de oito anos, mas havia uma dificuldade de conexão. O sexo não fluía e estávamos nos cobrando demais", conta Sabrina*, 40 anos, fisioterapeuta. A iniciativa de buscar um curso de sexo tântrico partiu da parceira, pois Sabrina teve muito receio no início.
"Para mim, era difícil me expôr, mas acabei aceitando porque queríamos buscar esse autoconhecimento", conta. A experiência valeu a pena: "Parecia que eu estava fazendo sexo pela primeira vez. Foi uma descoberta de sensações que nunca havia vivenciado, uma energia realmente indescritível".
Segundo Evandro Palma, psicólogo e terapeuta tântrico há 12 anos, os cursos voltados aos casais homoafetivos têm o mesmo propósito dos demais. "Essa propriedade de sentir o corpo em sua intensidade não diz respeito ao gênero. A energia direcionada pelo desejo oferece uma resposta que independe da orientação sexual", afirma.
A filosofia tântrica conduz a um estado de autoconhecimento, de evolução do ser e de identificação com a natureza. "Esse caminho tântrico, de autoconhecimento, pode ser seguido sozinho, em casal, em trio, quarteto ou por toda uma comunidade", acrescenta mestre Victor Lino, do Prakriti Tantra.
Para Jorge*, 45 anos, administrador de empresas, a busca pelo Tantra foi fruto da curiosidade. Sua primeira experiência aconteceu com um ficante. "Foi delicioso, pois era uma jornada de descoberta mútua do corpo e da energia sexual. O que mais gostei foi a alegria que sentimos, a conexão que se criou. A dificuldade é que existia, por parte dele, muita fantasia a respeito do sexo tântrico, e mesmo que as sensações se agucem, o que está por trás é algo mais profundo: o conhecimento, a escuta", relata.
Ainda assim, Jorge decidiu trazer essa experiência para a sua rotina: "Não há nada melhor que se livrar do peso do sexo performático, para substitui-lo por um sexo com duas pessoas realmente interligadas". De acordo com Palma, essa é a real proposta do Tantra: aprimorar a descoberta e elevar a conexão entre os casais. "A questão do orgasmo e do prazer faz parte de um conceito muito mais amplo que busca a integração", explica.
A prática entre gays
Não é preciso ter um parceiro fixo para realizar a experiência. Há pessoas que vão sozinhas e, durante o encontro, se ajustam com um par. No entanto, se a pessoa realiza com um parceiro regular, o processo evolutivo pode ser mais rápido. Os estímulos podem ser conduzidos simultaneamente, mas, em geral, ocorre uma troca. "Os corpos em ação não conseguem ficar tão receptivos, por isso, o desenvolvimento sensorial acontece individualmente: enquanto um oferece, o outro recebe. E depois alternam as posições", explica Palma.
Para Lino, é importante que haja essa divisão, para que os parceiros tenham a oportunidade de conhecer mais o outro, suas preferências e desejos. Normalmente, os homens ficam mais à vontade e a resposta pode ser mais fácil. "Eles não têm restrição sobre áreas erógenas, o que torna o corpo do homem mais facilmente estimulável", diz Palma.
Já as mulheres buscam o acesso ao prazer, pois mesmo em relações homoafetivas podem existir dificuldades para a satisfação. "A ideia de que o envolvimento com outra mulher possa ser mais efetivo não se confirma em consultório. Elas também precisam aprender a lidar com o corpo da parceira e a estabelecer essa conexão", comenta Palma.
Uma energia que permanece
"Procurei o curso em um período em que estava solteiro, em 2014, e foi um divisor de águas para mim", afirma Prem Dinoo, 40 anos, terapeuta. Ele avalia que as relações costumam ser muito pobres e protocolares. Segundo Dinoo, o Tantra provoca uma conexão muito mais profunda, que vai além do sexo, pois tem o olhar, o cheiro, o toque: "Você descobre todo o potencial de prazer que tem a oferecer, o que deixa o relacionamento muito mais rico".
Hoje, ele vive uma relação de um ano e meio e já apresentou o Tantra para o parceiro. "A prática não é apenas um ritual, é consciência do corpo para atingir um prazer mais completo", avalia.
A atriz Estefânia Zonaro, 42 anos, descobriu o Tantra e o aplica em suas relações. Ela não tem parceira fixa, mas nunca deixa de apresentar a técnica em seus encontros. "Duas mulheres, em sua intimidade, traduzem bem uma parceria; com o Tantra, criamos quase uma unidade", diz.
*Nomes trocados a pedido dos entrevistados
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