Um conceito de orgasmo feminino como reflexo
O orgasmo é mais bem conceituado como um reflexo cujo centro neural inferior está localizado, provavelmente, na medula. Como todos os centros de reflexo que servem outras funções, o centro de reflexo orgásmico está sujeito a múltiplas influências inibitórias e facilitadoras, de inputs sensoriais diretos e dos centros neurais superiores. O input sensorial que geralmente dispara o reflexo parece derivar-se sobretudo de nervos sensitivos, provavelmente fibras táteis e de pressão, cujos terminais estão localizados no clitóris. Entretanto, como acontece com outros reflexos. O nível de estímulo necessário para descarga também pode ser atingido pelos impulsos provenientes de outras áreas, inclusive da entrada da vagina e mamilos. O reflexo orgásmico também pode ser disparado por inputs sensoriais dos centros nervosos superiores.
Experimentos de estimulação elétrica do cérebro demonstraram que se pode conseguir um orgasmo num animal, na ausência de estimulação dos órgão genitais, dirigindo-se um estímulo elétrico diretamente ao centro específico no cérebro. A evidência clínica em apoio desta descoberta consiste no fato mencionado acima, de que apenas a fantasia pode levar ao clímax algumas mulheres que necessitam de baixo nível de estímulos para o disparo orgásmico.
O fluxo moto proveniente dos centros de reflexo orgásmico do orgasmo feminino vai aos músculos circunvaginais e aos da víscera pélvica, que respondem com espasmo reflexo durante a descarga orgásmica. Receptores de grande pressão nestes músculos vaginais e talvez também nos nervos sensitivos viscerais transmitem as sensações orgásmicas às zonas sensitivas do cérebro.
Em resumo, o input sensorial que dispara o orgasmo talvez provenha (mas não exclusivamente) dos nervos sensitivos do clitóris, ao passo que os componentes motor são expressos e percebidos nos músculos circunvaginais.
O nível normal da intensidade de estímulo necessário para a descarga orgásmica ainda não foi determinado. Por isso, não sabemos o que constitui o nível médio esperado de intensidade e de duração de estímulo para produzir orgasmo nas várias populações femininas normais e patológicas. É extremamente importante reconhecer a nossa falta de informação nesta área, porque isto evidencia o fato de que os critérios clínicos que governam os nossos conceitos atuais de normalidade e de patologia do orgasmo feminino são baseados apenas na especulação, e não em dados fisiológicos seguros. Na ausência de fatos seguros, assumimos uma posição temporária a respeito do tratamento de disfunção orgásmica feminina. Esta hipótese para o trabalho, que é necessariamente baseada na experiência e intuição clínica, será, está claro, modificada, a fim de ajustar-se à informação fisiológica sobre o orgasmo feminino, quando estiver disponível. -Helena Singer
As pacientes que sofrem de inibições específicas do reflexo orgásmico também podem se beneficiar com a terapia. Todas as mulheres são capazes de ter orgasmo, desde que não estejam sofrendo de uma doença séria, neurológica, endocrinológica ou ginecológica, que
tenha distribuído a base física do orgasmo. A grande maioria dos casos são de origem somática emocional e psíquica. Por isso o tratamento é claramente indicado para paciente que sofre de uma inibição orgásmica primária absoluta e que nunca teve orgasmo.